A queda dos juros nos últimos anos acabou levando muitos investidores a divesificar suas aplicações, e uma das alternativas foram os investimentos internacionais. Porém, diferentemente de mercados maduros como Estados Unidos e Europa (onde 30% dos investimentos já são “off shore”), o investidor brasileiro só recentemente começou a adquirir essa cultura. Por isso, todo o cuidado é pouco para evitar as armadilhas de fora.

Um dos problemas é a complexidade operacional. Segundo a CEO e fundadora do grupo financeiro 360iGroup, Ale Boiani, para se investir diretamente no exterior é preciso, geralmente, ter uma conta investimento em outro país. O investidor vai precisar de uma corretora brasileira que mantenha relacionamento com corretoras gringas. Mas a régua é alta, porque se exige um patrimônio de pelo menos R$ 1 milhão. Outra forma é atuar junto a um escritório que reúna diversos clientes para investir lá fora.

Há três categorias de investidor: o regular, que é aquele que tem menos de R$ 1 milhão investido no Brasil; o qualificado, que tem valores acima de R$ 1 milhão; e o profissional, com mais de R$ 10 milhões ou que trabalha na área de investimentos. Mas a diversificação deve obedecer ao critério de colocar, no máximo, 30% dos recursos no exterior. “Se o cliente tem planos de morar fora, ele precisa fazer um projeto especial de internacionalização do patrimônio. Mas ter dinheiro lá fora essencial, mesmo para quem não tem planos de morar no exterior”, disse ela.

O trabalho extra vale a pena. “Muitos gestores perceberam que esses investimentos são importantes, pois diminuem a volatilidade da carteira”, afirmou Boiani. De acordo com a gestora, quase 40% da bolsa nacional hoje está relacionada às commodities. Elas estão indo bem por causa da demanda maior da China e dos Estados Unidos. “Mas no exterior temos outros mercados interessantes para investir, com nichos muito diferentes dos que existem aqui”, disse. Entre as opções estão não apenas a tecnologia da informação, mas também empresas ausentes do mercado brasileiro, como as de fármacos. “Tecnologia é um mercado que cresce muito, e esse mercado se valoriou 56% em 2020”, afirmou.

Lindomar Santos

“Os investimentos internacionais são importantes, pois diminuem a volatilidade da carteira” Ale Boiani, CEO do 360iGroup.

Uma alternativa mais popular são os Brazilian Depositary Receipt (BDR), recibos de ações ações internacionais negociados no Brasil, em reais. Eles permitem que empresas estrangeiras captem dinheiro no Brasil. E o investidor brasileiro não precisa ter conta no exterior. “Com fundos em BDRs o investidor pode participar do mercado internacional sem correr muitos riscos da variação cambial”, afirma Boiani.

PROTEÇÃO Nos últimos dez anos o real perdeu cerca de 60% em relação ao dólar. Por isso, investir lá fora traz menos risco aos investidores do que manter seu capital aqui. As carteiras que incluem investimentos fora oscilam menos, de acordo com Boiane. Claro que todo esse investimento é declarado, com indicações claras da origem legal dos recursos. Mesmo assim, é preciso cuidado. Hoje com toda a tecnologia é fácil para o investidor conferir se o assessor é cadastrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pode atuar no exterior. É preciso comprovar a parceria com empresas idôneas lá fora. Os cuidados valem para todos os mercados, mas nos Estados Unidos há uma precaução adicional, devido à complexidade da legislação tributária. “Quem tem a partir de US$ 60 mil, mesmo que a pessoa não more lá, e vier a falecer o dinheiro tem de ser inventariado e tem de contratar advogado lá e pagar o imposto similar ao tributo estadual sobre heranças, que em São Paulo é de 4% lá é de 45%”, disse a especialista.

Esse imposto varia de um estado para outro. Mas, quem tem muito dinheiro, geralmente acaba abrindo empresas nos EUA porque empresas não morrem. “Por isso, é preciso orientações. Não dá pra ir na cara e na coragem, apesar das facilidades que existem hoje com as diversas plataformas de internet”, disse Boiani, alertando que, mesmo com os juros maiores no Brasil, ainda vale a pena ir para o mercado externo porque não se espera a volta para as taxas de dois dígitos no País.