Os eVTOLs podem ser as grandes sensações visuais do cenário futurista que imaginamos para daqui alguns anos. Veremos fileiras dessas aeronaves, que são elétricas, decolam e aterrissam verticalmente, passando por cima de prédios, como carros voadores. A ideia é factível e disruptiva pois se baseia em capturar parte do transporte terrestre, aquele dentro de uma faixa de 150 quilômetros de distância, com o uso de uma máquina inovadora e simples — e que não pode se assemelhar à operação e custo de um helicóptero para se tornar uma realidade mercadológica. E é esse nicho que a EVE Air Mobility, companhia independente criada pela Embraer em 2020, mira e decola com vantagem contra as mais de 200 empresas concorrentes no mundo. São 1.825 encomendas do modelo até o momento, que agora ganha a parceria da gigante tech e líder global francesa Thales. Além de investidora menor, trará toda sua bagagem de aviônicos, sistemas elétricos, navegação e conectividade para o projeto. Por que a vantagem? Porque a Embraer é uma empresa reconhecida no mundo todo, com 80 bases em vários países. Isso possibilita a manutenção dos eVTOLs da EVE, tornando-os realmente um projeto global.

É um negócio de US$ 4,5 bilhões até 2030, segundo a empresa. “Um de nossos diferenciais é já saber quais são nossos building blocks no desenvolvimento do produto ”, disse à DINHEIRO André Stein, CEO da EVE, engenheiro mecânico formado em administração pela Kellogg School of Management, EUA, e com mais de 20 anos de experiência no ramo de aviação. Isso significa que já colocaram no ar modelos em escala, voaram em simuladores e em breve farão uma prova de conceito em escala real. É uma altitude mais do que desejável para quem pretende começar atividades comerciais em 2026. Dois meses atrás, tiveram aprovação da ANAC para iniciar o processo de certificação formal. “É um milestone muito relevante a nós.”

Esse é um mundo mais simples que dos aviões e os helicópteros. Os primeiros estão em fase de convergência, ou seja, não há mais novidades em seu funcionamento. No fundo, é um tubo com asas. Já o segundo é uma máquina complexa, de partes móveis, motor a combustão pesado e que mantém seu enorme e barulhento rotor ligado enquanto é empurrado para frente. Já os eVTOLs possibilitam uma volta aos primórdios do pensar aviação. As baterias elétricas são leves e menores. A pilotagem, embora tenha de ser feita por habilitados, impõe uma carga de trabalho muito menor. Praticamente os eVTOLs serão computadores que voam. Quase como pilotar um drone. “Esperamos que o custo seja seis vezes menor para o usuário comparado com um helicóptero”, afirmou Stein, que foi responsável pelo desenvolvimento dos E-Jets E2 da Embraer.

WEL CALANDRIA

“Esperamos que o custo seja seis vezes menor para o usuário comparado com um helicóptero” André Stein, CEO Eve Air Mobility.

ECONOMIA DE TEMPO O projeto da Eve aposta em um sistema Lift + Cruise. É um facilitador, pois oito rotores levantam verticalmente a aeronave, outros dois passam a movê-la para frente — desligando os outros oito — e o voo passa a utilizar as asas. “Alavancar nas asas aumenta a eficiência.” Outros designs pelo mundo querem rotacionar os motores que levantam e propulsionam, e isso cria desgaste. O tempo, claro, dirá se a solução da equipe de Stein foi a mais acertada. A parceria com a Thales possibilita, entre outros fatores, pensar já na navegação e manejo de tráfego. “Somos líderes mundiais em equipamentos em espaço aéreo. Dois em cada três aviões no mundo pousam ou decolam com algum sistema nosso”, afirmou à DINHEIRO Luciano Macaferri, CEO da Thales. Sim, o tal voar sobre os prédios talvez não seja a imagem que vemos em Star Wars, seja algo mais organizado e mais espaçado, para garantir a segurança de quem está no ar e quem está em solo.

A empresa da Embraer já fez um teste de um mês no Rio de Janeiro, em uma rota Barra da Tijuca e Aeroporto do Galeão. Usaram um helicóptero para 100 voos levando 600 passageiros e foram acompanhados pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) e Anac. O preço da passagem foi o que imaginam ser viável para o negócio: R$ 99. Com isso, perceberam que o gargalo de um re-check-in no aeroporto pode inviabilizar a ideia de “economia de tempo” proposto pelos eVTOLs. A autonomia da aeronave também dita o modelo de negócios: seria de 100 km aeronáuticos, ou perto de 150 km terrestres nossos, de carro, por conta de curvas. Seria então uma opção para pessoas eventualmente usarem para chegar mais cedo em casa, por exemplo.

Fora da aparente ficção-científica, tem tudo para ser um grande negócio — e em conformidade com a sustentabilidade. Segundo Stein, o combustível hoje é um dos principais custos da aviação. “A energia elétrica é proporcionalmente mais baixa, com motor mais simples e com menos partes móveis. E gera bem menos CO2.” A EVE já tem investidores estratégicos como Republic Airways, SkyWest e Rolls-Royce, renomadas no setor aéreo, além da Acciona,empresa de soluções de energia renovável, e empresas de leasing. Tudo indica que teremos um ótimo voo.