Em dezembro do ano passado, quando a Locamerica e a Unidas anunciaram a fusão de seus negócios, criando a segunda maior locadora de veículos do Brasil, o mercado dava como praticamente certo que novos movimentos de consolidação ocorreriam nos meses seguintes. As previsões dos analistas estavam corretas. O que ninguém imaginava, porém, era que os primeiros quilômetros desse roteiro seriam percorridos pela francesa Europcar. Líder na Europa e terceira maior locadora do mundo, com faturamento de € 2,4 bilhões, a marca anunciou, no final da semana passada, o início de sua operação no mercado brasileiro. A entrada no País veio com a aquisição da Yes Rent a Car, rede de franquias que conta com 70 pontos de atendimento em 15 Estados brasileiros e frota de mais de 3,5 mil veículos. “A ideia foi chegar ao Brasil com capilaridade”, diz Paulo Gaba Jr., presidente da Europcar no Brasil. “Já entramos brigando pelo quarto lugar”.

Os planos do executivo para crescer no País incluem novas aquisições, além de um aporte para aumentar a frota e a rede de lojas de forma orgânica. Para isso, a empresa vai desembolsar, nos próximos dois anos, mais de R$ 200 milhões. A meta é chegar a 100 pontos de atendimento e a 5 mil veículos até o fim deste ano. No longo prazo, a expectativa é atingir a marca de 100 mil veículos. A entrada da Europcar, ainda que tardia – a empresa foi a última grande locadora global a ingressar no Brasil -, tem potencial para mexer profundamente com o setor. “O acordo vai gerar um reposicionamento das empresas não só em preços, mas em proposta de valor. Eles têm alguns serviços inovadores e o mercado brasileiro terá de se preparar para isso”, dizDiego Coelho, professor da ESPM e coordenador do Programa de Capacitação em Negócios Internacionais (PCNI), da Apex Brasil.

A ideia da empresa é justamente trazer para o País uma série de soluções comuns na Europa, mas que ainda não compõem o leque de serviços das redes brasileiras. Entre os exemplos estão a entrega do carro na residência do consumidor, em um raio de até 25 quilômetros, a locação de veículos com motoristas particulares, a oferta de carros elétricos e o modelo de compartilhamento. “O Brasil é um mercado maduro, mas que ainda carece de todas essas soluções”, diz o presidente da Europcar. O segmento de locação de veículos no País possui números expressivos. Segundo dados da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), existem 11,5 mil locadoras no Brasil, com uma frota de 709 mil veículos e um faturamento anual de R$ 15,5 bilhões.

Metade do mercado, no entanto, é dominado pelas três maiores companhias: a Localiza Hertz, que detém uma frota de 193 mil carros, a Locamerica e Unidas, que juntas possuem 111 mil automóveis, e a Movida, com 75 mil veículos. Será exatamente esse o principal desafio da Europcar. Com sua operação inicial, a francesa ainda está distante do tamanho das líderes do setor. Nessa corrida, para se aproximar das primeiras posições a empresa precisará pisar firme no acelerador e percorrer uma longa estrada.