A Europa abandonou, nesta quinta-feira (4), o projeto de resolução contra o Irã que iria apresentar à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), um gesto de boa vontade recebido com satisfação por Teerã.

Com o apoio de Washington, mas rejeitada por Moscou, esta iniciativa da Alemanha, França e Reino Unido condenava a decisão iraniana que suspendia determinadas inspeções vinculadas ao seu programa nuclear.

O texto não será submetido à votação do Conselho de Governadores, reunido nesta semana em Viena, informaram diferentes diplomatas à AFP.

“A decisão de suspender a resolução foi tomada ontem à noite de última hora”, disse uma fonte francesa, mencionando “sinais encorajadores” por parte dos iranianos.

“Isso não teria sido possível se a ameaça de resolução não tivesse sido mantida até o final”, afirmou, enquanto se reserva a possibilidade de “solicitar uma reunião extraordinária dos governadores” em caso de não haver progressos.

Teerã recebeu com satisfação essa notícia, que “pode manter aberto o caminho da diplomacia iniciado pelo Irã e pela AIEA”, de acordo com um comunicado do porta-voz das Relações Exteriores iraniano, Said Jatibzadeh.

“O Irã espera que os participantes do acordo (de Viena) aproveitem esta ocasião com uma cooperação séria, com o objetivo de garantir a implementação plena do acordo por todas as partes”, acrescentou.

A Rússia também se alegrou. “A sabedoria venceu”, declarou o embaixador russo na AIEA, Miajíl Ulyanov.

Esta notícia revitaliza a possibilidade de manter uma reunião informal, provavelmente dentro de uma ou duas semanas em Bruxelas, com a presença dos Estados Unidos que abandonaram o acordo em 2018 , disse o diplomata europeu.

– ‘Reuniões técnicas’ –

Entre os progressos constatados, o Irã concordou em começar um processo de “reuniões técnicas” com a AIEA para “esclarecer vários assuntos pendentes”, enfatizou o diretor-geral da agência nuclear da ONU, Rafael Grossi, nesta quinta-feira.

“Finalmente conseguimos acordar um processo de análise aprofundada” sobre “casos concretos” que criavam problemas, declarou à imprensa Rafael Grossi.

Há vários meses, a AIEA expressava sua preocupação em relação à possível presença de material nuclear em vários locais não declarados.

O Irã anunciou em fevereiro que havia começado a produzir urânio metálico para abastecer seu reator de pesquisa em Teerã, excedendo os limites acordados em Viena em 2015.

Este é um assunto delicado, porque esse material pode ser usado para a fabricação de armas nucleares, apesar da República islâmica sempre negar o desejo de desenvolver a bomba.

O “plano de ação global comum”, também assinado pela China e Rússia, está por um fio desde a retirada americana em 2018 por decisão unilateral de Donald Trump, e o restabelecimento das sanções.

Seu sucessor, Joe Biden, prometeu voltar o acordo se o Irã voltar a cumprir com sua parte do contrato. No entanto, Teerã exige de antemão o levantamento das medidas que asfixiam sua economia.

burx-anb/bg/age-jz/aa