O ano novo será de maiores controles, mais blitze e, possivelmente, de aumento da deportação de trabalhadores irregulares na Europa. O governo francês de Emmanuel Macron anunciou nesta segunda-feira, 18, que vai apresentar um novo projeto de lei para acelerar a expulsão daqueles que não estejam em condições legais no país. Oficialmente, o ministro do Interior, Gerard Collomb, argumentou que a reforma seria uma maneira de garantir que os refugiados tenham um tratamento melhor. Para ele, a situação hoje em Paris é “explosiva”.

Se o principal foco da ação de Macron são os países africanos, a medida acabará atingindo também milhares de brasileiros na França. A proposta já sofre resistência de entidades de assistência, como o Emmaus. Segundo essas organizações, a proposta chega a falar de operações policiais em centros de acolhimento de saúde. Em 2016, 16 mil pessoas foram deportadas da França. Para 2017, o governo indica que o número já cresceu 14%.

A situação dos brasileiros também deve ficar mais tensa no Reino Unido. Carlos Mellinger, presidente da Casa do Brasil em Londres, confirma a tendência de alta no número de prisões e expulsões. “Estamos vendo um aperto cada vez maior das autoridades. Tem muita gente sendo detida”, disse Mellinger, que lidera a principal entidade de representação da comunidade nacional na capital britânica. “Temos visto blitz em locais de trabalho.”

Segundo ele, porém, o controle será ainda maior em 2018. Hoje, os hospitais públicos já são obrigados a passar informações de eventuais pacientes sem documentos e, em janeiro, serão os bancos que apresentarão as informações às autoridades.

Mellinger destaca que, desde 2015, a onda de brasileiros tem de fato aumentado com força em Londres. “Eles chegam achando que vão poder viver sem documentos, como na Londres do passado.” O que ainda surpreende o representante da Casa do Brasil é o fato de que, em Londres, as delações estão por trás do aumento das deportações. E “muitas vezes, são brasileiros que delatam brasileiros”, contou.

Extrema-direita. No restante da Europa, a pressão da extrema-direita também pode resultar em regras mais rígidas nas condições de entrada de estrangeiros. Na Áustria, o governo que acaba de ser formar traz em sua base o partido ultraconservador que, na campanha eleitoral, falou em fechar fronteiras.

Tentando dar um sinal de que também poderia ser dura, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, rejeitou 300 mil pedidos de asilo. O temor do restante da Europa é que essas pessoas, agora, vaguem pelo continente.

Final feliz. Em Genebra, o brasileiro Murilo Martins diz que quem chega agora encontra uma situação muito mais difícil do que a que ele encontrou, há 14 anos, quando desembarcou na Suíça. “Os donos de estabelecimentos temem serem responsabilizados por empregar clandestinos”, diz.

O mineiro já trabalhou cuidando de crianças, passou pela cozinha de três restaurantes e só agora está conseguindo atingir dois de seus sonhos: ser fotógrafo e viver de forma regular na Suíça. Ele é hoje um requisitado fotógrafo do mundo da moda e das milionárias festas de gala do país. “Quem chega deve estar pronto para começar a vida do zero.” Segundo ele, o espaço que teve nesses anos para trabalhar em restaurantes de Genebra não existe mais para quem chega agora. “Os patrões não querem mais contratar quem não tenha documentos em ordem.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.