Mais do que uma invasão russa da Ucrânia, os europeus temem que o governo de Kiev caia na armadilha de um confronto na região de Donbas desencadeado por uma provocação de separatistas pró-Rússia, e advertiram Moscou sobre sua determinação em aplicar sanções, informaram autoridades nesta terça-feira (25).

“Ninguém sabe se [o presidente russo Vladimir] Putin tomou a decisão de intervir e qual será o gatilho, mas estamos em alerta máximo até o final de fevereiro”, disse uma autoridade europeia.

A Rússia concentrou uma enorme capacidade militar ao longo de sua fronteira com a Ucrânia e, nesta terça-feira, realizou exercícios aeronavais na península da Crimeia, que anexou em 2014.

Muitas unidades estão implantadas perto das autoproclamadas repúblicas de Lugansk e Donetsk, na região de Donbas (leste da Ucrânia), onde os separatistas pró-Rússia enfrentam as forças ucranianas há oito anos. Moscou não esconde seu apoio a essas duas repúblicas.

A Duma – a câmara baixa do Parlamento russo – estuda uma petição do Partido Comunista para que Putin as reconheça como independentes.

O porta-voz do Kremlin considerou na segunda-feira “muito alto” o risco de uma ofensiva das tropas ucranianas contra os separatistas pró-Rússia.

– Lições aprendidas –

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, disse na semana passada que estava “preocupado com a situação nas regiões não controladas por Kiev, porque (…) a Rússia se aproxima cada vez mais delas”.

“A concentração de forças na fronteira ucraniana está ligada à sua integração de fato na Rússia”, acrescentou diante dos eurodeputados.

Um diplomata europeu observou que “a região será palco de grandes provocações e a liderança ucraniana é chamada a não fazer nada que possa ser usado como provocação” pela Rússia.

“As lições devem ser aprendidas com o que aconteceu na Geórgia em 2008”, disse ele.

Uma operação militar das forças georgianas contra a região separatista da Ossétia do Sul provocou a intervenção do exército russo. O conflito durou cinco dias e terminou com o reconhecimento da Ossétia e da Abkhazia por Moscou.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, garantiu na segunda-feira que seu país “não cederá a provocações”.

Enquanto isso, um funcionário europeu anunciou que a UE “sancionará qualquer agressão armada na Ucrânia, uma vez que pode assumir muitas formas e não necessariamente envolver o exército russo”.

Estas mensagens já foram transmitidas à Rússia porque “os europeus falam com as autoridades russas e com os seus negociadores na OSCE [Organização para a Segurança e Cooperação na Europa] e no Conselho Otan-Rússia”, explicou.

– ‘Isolamento total’ da Rússia –

Especialistas e diplomatas da UE prepararam opções para responder a diferentes tipos de ações contra a Ucrânia por parte da Rússia.

As sanções econômicas e financeiras introduzidas pela UE após a anexação da Crimeia e renovadas por unanimidade de seis em seis meses “constituem a espinha dorsal” da reação europeia, embora em menor escala.

As sanções serão “sem precedentes” e a Rússia “será totalmente isolada”, alertou o ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Jeppe Kofod, na segunda-feira.

“Todas as opções estão sobre a mesa e, se queremos ter credibilidade, nada pode ser descartado”, explicou um responsável europeu.

A Rússia obtém 46% de sua receita com vendas de petróleo e gás, e os países europeus são clientes importantes, disse ele. “A questão é a vontade política de votar a favor dessas sanções”, reconheceu.

De fato, alguns líderes europeus não escondem suas dúvidas.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, insiste nas “consequências” das sanções para a economia alemã. No entanto, reconhece que “há uma coerência dos europeus com os Estados Unidos para implantar, em algum momento, um conjunto de sanções consideradas dissuasivas”, disse nesta terça-feira o chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves le Drian.