A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) decidirá nesta sexta-feira (29) se autoriza a vacina da AstraZeneca, enquanto cresce a preocupação em todo o mundo pela lentidão na vacinação e a eficácia das vacinas contra as novas variantes do coronavírus.

A decisão da EMA, órgão regulador europeu com sede em Amsterdã, coincide com a tensão entre a União Europeia (UE) e o laboratório britânico AstraZeneca pelo atraso na entrega das vacinas pré-acordadas e com um debate sobre a eficácia do produto.

A autorização europeia abrangerá os 27 países da UE e Noruega, Islândia e Liechtenstein. A EMA já autorizou as vacinas da Pfizer/BioNTech e Moderna.

O ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, disse esperar uma aprovação “limitada” da vacina da AstraZeneca, um dia depois de o órgão regulador de seu país recomendar não administrar a vacina do laboratório britânico em maiores de 65 anos.

Esta decisão desatou uma nova polêmica na Europa com a AstraZeneca, que defendeu, assim como o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, a eficácia de seu produto desenvolvido junto com a Universidade de Oxford.

O laboratório britânico é há dias alvo da indignação dos líderes europeus, após anunciar que só poderia fornecer um quarto das doses que prometeu para o primeiro trimestre de 2021.

A UE exige que o laboratório cumpra com seus compromissos fornecendo doses produzidas em suas fábricas do Reino Unido, mas Londres insiste que seu país deve receber primeiro todas as vacinas que ordenou. Nesse caso, as contas não fecham e está claro que não há doses suficientes para todos.

Nesse contexto, a União Europeia publicou nesta sexta o contrato de pré-compra de vacinas anticovid assinado no ano passado com a AstraZeneca, com parágrafos inteiros ocultados por razões de confidencialidade.

“Saudamos o compromisso da empresa com o aumento da transparência (…) A transparência e a responsabilidade são importantes para reforçar a confiança dos cidadãos europeus”, comentou o porta-voz da Comissão Europeia, Eric Mamer.

Ele disse ainda que a divulgação do contrato mostrará que o acordo assinado inclui as fábricas da AstraZeneca no Reino Unido e que “essas fábricas contribuirão para o esforço (…) de entregar as doses à União Europeia”.

– OMS em hospital de Wuhan –

Desde seu surgimento, a covid-19 matou quase 2,2 milhões de pessoas entre as 100 milhões infectadas no mundo e as esperanças para virar a página da pandemia estão voltadas para as vacinas desenvolvidas em menos de um ano, um marco científico.

A mais de 8.500 km de Amsterdã, uma equipe da Organização Mundial da Saúde (OMS) começou a coletar dados em sua primeira visita a Wuhan em busca de indícios sobre a origem do coronavírus.

Os especialistas visitaram hoje um hospital e devem visitar também um mercado de alimentos desta metrópole de 11 milhões de habitantes que é considerada o “marco zero” da pandemia.

“Estamos no hospital que tratou alguns dos primeiros casos conhecidos de covid-19, nos reunimos com os médicos e a equipe que realizou esse trabalho”, tuitou Peter Daszak, presidente da ONG EcoHealth Alliance e membro da missão.

A China alertou os Estados Unidos na quinta-feira contra qualquer “interferência política” durante a missão que a OMS insiste que se limitará exclusivamente a compreender cientificamente como o vírus foi transmitido aos humanos.

O gigante asiático, que há meses registra pequenos surtos isolados da doença, registrou oficialmente 4.636 mortes, um número insignificante comparado aos balanços da maioria dos países do mundo, onde a pandemia continua seu avanço mortal.

– “Condenado” –

Europa é a região mais enlutada, com mais de 720.000 mortes, seguida pela América Latina e Caribe (cerca de 588.000 mortes) e Estados Unidos e Canadá (aproximadamente 450.000).

A aparição de novas cepas no Reino Unido, África do Sul e Brasil, já presentes em dezenas de países, complicou nas últimas semanas o combate ao vírus. Alguma das três variantes já foi detectada em 14 países das Américas, alertou a Organização Pan-americana da Saúde (Opas).

As mutações preocupam os especialistas pela possibilidade de resistirem às vacinas, embora as empresas Moderna e Pfizer tenham afirmado que seus produtos funcionam contra as variantes britânica e sul-africana.

Para dissipar as relutâncias sobre a vacinação, nesta sexta-feira a EMA afirmou que a vacina da Pfizer/BioNTech não está relacionada com as mortes de pessoas que receberam a injeção.

Na espera de alcançar uma imunização coletiva, os países continuam aplicando restrições para conter a propagação do vírus com toques de recolher e confinamentos cada vez mais impopulares.

As medidas adotadas para frear a pandemia prejudicaram a economia mundial, com recessões nunca vistas desde a Segunda Guerra Mundial, como no caso da França.

O Produto Interno Bruto (PIB) da segunda economia europeia caiu 8,3% em 2020, uma queda inferior à da Espanha, cuja economia caiu 11% no ano passado, também seu pior resultado em décadas, segundo dados dos respectivos institutos de estatística.

A economia dos Estados Unidos também sofreu em 2020 seu pior desempenho desde 1946, com uma contração de 3,5% do PIB pela pandemia, que continua destruindo empregos e gera enormes desafios para o novo governo de Joe Biden.

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