Durou poucos minutos, mas gerou aplausos no pregão em Wall Street e um movimento de euforia no mundo que deve prosseguir por mais alguns dias. O índice Standard & Poor’s de 500 ações (S&P 500), considerado o mais representativo dos humores do mercado acionário americano, superou 3 mil pontos pela primeira vez na história na quarta-feira 10. O máximo do dia foram 3.003 pontos, mas o indicador fechou levemente abaixo desse nível, a 2.993 pontos. Mesmo assim, a forte tendência de alta que vem sustentando as ações deve continuar.

O que levou o índice a quebrar o recorde foram os comentário de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Em seu depoimento semestral diante da Câmara dos Deputados na manhã da quarta-feira, Powell indicou claramente que a economia americana não está dando sinais de superaquecimento. Ao contrário, ele disse estar preocupado com a desaceleração da economia global, especialmente a da China, o que poderia ter efeitos negativos sobre os negócios nos Estados Unidos. Era o que o mercado queria ouvir. Isso elevou as apostas de que os juros americanos, hoje entre 2,25% e 2,50% ao ano, deverão começar a cair ainda antes de dezembro.

Uma queda dos juros afeta os preços das ações de duas maneiras. Uma delas é estimulando os resultados das empresas. Por lá, onde o custo do dinheiro tem relação com as decisões do Banco Central, um corte nas taxas barateia os empréstimos para as pessoas consumirem e para as empresas produzirem. Isso indica lucros maiores para as companhias listadas em bolsa, e as cotações sobem.

Jerome Powell: para o presidente do FED, os juros americanos devem começar a encolher em breve (Crédito:AP Photo/Patrick Semansky)

Outro motivo é que a queda das taxas reduz a rentabilidade dos papéis de renda fixa, tanto públicos quanto privados, levando investidores e gestores de recursos a sair dos títulos e a migrar para as ações. No entanto, segundo analistas, neste momento a conjuntura favorece as aplicações na bolsa. “As empresas já vêm apresentando uma alta dos resultados”, diz Scott Wren, principal estrategista global do banco de investimentos americano Wells Fargo.

Demorou quase cinco anos para o índice avançar do patamar de 2 mil pontos, atingido em agosto de 2014, para o recorde atual. E não foi um caminho suave (observe o gráfico). Ao contrário, eventos com a desvalorização da moeda chinesa, o yuan, a surpresa do Brexit e a queda dos preços do petróleo provocaram fortes solavancos no mercado. A expectativa é que os próximos meses também sejam atribulados, devido tanto ao início da disputa eleitoral nos Estados Unidos quanto à piora das relações americanas tanto com parceiros como a China quanto com aliados como o Reino Unido.

ENTUSIASMO Apesar de o recorde no S&P 500 ter sido quebrado no fim do dia, quando os mercados na Europa e na Ásia já tinham encerrado seus negócios, a notícia foi suficiente para animar investidores fora dos Estados Unidos. Um bom exemplo foi o Brasil. Por aqui, o Índice Bovespa bateu outro recorde e fechou a 105.817 pontos, alta de 1,23%, após ter chegado a um máximo de 106.144 pontos. Além da alta no exterior, a aprovação por larga margem da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara dos Deputados. Com emendas, a proposta recebeu 379 votos favoráveis, 71 mais que os 308 necessários para a aprovação. A expectativa do resultado já estava incluída nos preços, mas a animação em Wall Street ajudou a turbinar os negócios. Porém, os prognósticos por aqui são de turbulência. “O Índice Bovespa pode realizar uma parte dos lucros no curto prazo, enquanto acumula força para uma nova rodada de alta”, diz o analista Jeferson Laatus.