O mercado começou a precificar seu otimismo com o futuro da economia. O que aconteceu na semana passada nos pregões da bolsa e nas cotações do câmbio foge do esperado e deu o tom da euforia que toma conta de investidores. Eles são tradicionalmente os primeiros a antever cenários. Os indicadores macroeconômicos ainda caminham de forma lenta para a recuperação, mas a crença geral é a de que ela se consolidará antes do esperado. Alguns elementos dão base a essa expectativa.

A força das contas externas, que vêm surfando a onda de aumento nos preços das commodities, é uma delas. Agências de risco já descartam o temor de um calote do País e classificaram a nota brasileira num patamar pré-crise. A indústria, pela primeira vez em 20 meses, apresentou um volume maior de contratações do que de demissões. E a expectativa de reformas estruturais está sacudindo para cima o ânimo dos analistas. Não por menos a bolsa fechou a última semana no maior nível desde 2012.

O real, em acelerada valorização – foi a moeda de melhor desempenho frente ao dólar nos últimos meses – pode quebrar a simbólica barreira de um para três no comparativo com a moeda americana. Algo surpreendente. Há cerca de um ano, em pleno desastre da era Dilma, o dólar estava cotado a R$ 4,15, tamanha era a aversão de recursos estrangeiros por apostas aqui. Na nova fase de rearrumação da casa, estima-se que ele deve passar a girar na casa de R$ 2,90 ainda no primeiro semestre do ano.

A tendência, firme e sustentável, diz muito da confiança externa na política monetária e nos fundamentos da retomada. O capital estrangeiro, que já vem aumentando suas inversões internamente, injetará liquidez no motor do crescimento. Da mesma maneira, a autorização para saques de recursos do FGTS deve lançar pelo menos outros R$ 35 bilhões na praça. É com esse dinheiro que indústria e varejo contam para destravar vendas e produção. O Governo Temer não quer parar por aí.

O núcleo de sua equipe estuda o lançamento de um pacote de bondades que incluiria, entre outras propostas, uma maior isenção no Imposto de Renda e reajustes no Bolsa Família. Cada passo deve ser cuidadosamente estudado para não descontrolar as contas públicas, como ocorreu no passado. A responsabilidade fiscal e o controle em rédea curta da inflação devem continuar como prioridades para que tudo mais dê certo, como está prevendo antecipadamente o mercado.

(Nota publicada na Edição 1006 da Revista Dinheiro)