A suspensão em outubro do embargo de armas ao Irã significaria dar a esse país uma “espada de Dâmocles sobre a estabilidade econômica do Oriente Médio”, alertou nesta terça-feira o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, cujos argumentos foram rejeitados por Pequim e Moscou.

Isso poderia “colocar em risco países como a Rússia e a China, que dependem de preços estáveis de energia”, disse a autoridade americana durante uma videoconferência do Conselho de Segurança.

Por sua vez, Pequim considerou que os Estados Unidos, que se retiraram em 2018 do acordo nuclear celebrado com o Irã, não têm mais poder para exigir que as Nações Unidas reimponham sanções internacionais contra Teerã, segundo o embaixador chinês nas Nações Unidas.

“A China se opõe à pressão dos Estados Unidos para estender o embargo de armas. Depois de deixar o JCPOA, os Estados Unidos não são mais membros (deste acordo nuclear) e não têm mais o direito de desencadear” um retorno das sanções internacionais no Conselho de Segurança, disse Zhang Jun.

A Rússia também rejeitou a pressão dos EUA. “Não podemos aceitar” as tentativas americanas de “legitimar por meio da ONU sua política de pressão máxima”. “O que obteremos no final será uma escalada incontrolável”, declarou o embaixador russo, Vassily Nebenzia.

O diplomata russo também criticou o fato de Mike Pompeo ter decidido deixar a videoconferência antes de sua intervenção.

O chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif, deveria responder a Mike Pompeo no final da sessão.

Os Estados Unidos apresentaram recentemente a seus 14 parceiros do Conselho de Segurança um projeto de resolução que prevê uma extensão ilimitada do embargo de armas ao Irã, que expira em 18 de outubro.

Rússia e China, que estão empenhadas em vender armas ao Irã, já disseram que se opõem a uma prorrogação do embargo e que poderiam usar seu veto se for realizada uma votação a este respeito.

De acordo com o rascunho do texto americano, obtido pela AFP, qualquer venda de armas ao Irã seria proibida como qualquer exportação de armamentos iranianos. A resolução autorizaria os Estados membros a usar a força para fazer cumprir o embargo.

– “Transparência” –

No passado, os Estados Unidos ameaçaram, se o embargo de armas não fosse estendido, desencadear um processo de reimposição de sanções internacionais contra o Irã, previsto em um acordo nuclear (JCPOA) concluído com este país em 2015.

Nesta terça-feira, Mike Pompeo não citou essa ameaça ou o desejo americano de aplicar novamente as sanções econômicas internacionais contra Teerã, acusado de querer adquirir armas atômicas e desestabilizar o Oriente Médio, em particular no Iêmen, Líbano e Síria.

Desde a retirada de Washington em maio de 2018 deste acordo, a União Europeia, a Rússia e a China, que continuam a integrar o JCPOA, negam aos Estados Unidos o direito de ativar esse processo de reimposição de sanções internacionais.

O embaixador da União Europeia na ONU, Olof Skoog, enfatizou ao Conselho de Segurança que, desde maio de 2018, “os Estados Unidos não participaram de nenhuma reunião ou atividade no âmbito do acordo” nuclear de 2015.

Referindo-se às transgressões iranianas em relação a este acordo (acúmulo de urânio enriquecido além do limite autorizado, desenvolvimento de novas centrífugas…), Olof Skoog pediu ao Irã “que retorne sem demora a uma total implementação dos seus compromissos”.

“A implementação completa do JCPOA por todas as partes é crucial. É a única ferramenta que fornece à comunidade internacional as garantias necessárias relacionadas ao programa nuclear do Irã”, insistiu.

“Perder o JCPOA também significaria perder o Protocolo Adicional (ao Tratado de Não Proliferação), os acessos (ao Irã) à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a transparência adicional” que ele traz , disse o embaixador europeu.

A ONU também enfatizou durante a videoconferência do Conselho de Segurança que “a implementação completa (do JCPOA) é a chave” para garantir a segurança internacional.