O governo dos Estados Unidos deixou para sexta-feira, último dia da Cúpula das Américas, a declaração sobre migração que apresenta como uma associação regional de responsabilidade compartilhada sobre o asilo e o controle de fronteiras, mas não é possível saber quantos países assinarão o texto.

“Uma migração segura e ordenada é boa para todas as nossas economias, incluindo a dos Estados Unidos. Pode ser um catalisador para o crescimento sustentável, enquanto a migração irregular não é aceitável”, afirmou o presidente americano Joe Biden na quarta-feira, no discurso de abertura da nona Cúpula das Américas.

As palavras cruciais para Biden são responsabilidade compartilhada, porque Washington não deseja carregar todo o peso do fluxo migratório.

E menos ainda a poucos meses das eleições de meio de mandato de novembro, no momento em que a inflação elevada provoca a queda de popularidade de Biden.

Os detalhes do texto não foram divulgados, mas uma fonte do governo que pediu anonimato afirmou que Biden “está pedindo a todos os governos ao longo da rota migratória que estabeleçam ou fortaleçam o processo de asilo em seus respectivos países”.

Também solicita que “reforcem suas fronteiras de maneira mais efetiva, com controles e expulsando as pessoas que não são elegíveis para asilo”, acrescentou.

Quase 7.500 migrantes sem documentos, em sua maioria procedentes da América Central, tentam atravessar diariamente a fronteira com os Estados Unidos, de acordo com dados oficiais do mês de abril.

– Caravana –

Os migrantes passam pelo México, onde uma caravana de milhares de pessoas avança atualmente em direção aos Estados Unidos. Vários deles contaram à AFP que estão exaustos e alguns, em um ato de protesto pela demora nos procedimentos de salvo-conduto, costuraram os lábios.

A incógnita é saber quantos países assinarão a declaração, no momento em que a relação de Washington com alguns vizinhos não está no melhor momento.

De acordo com a fonte da Casa Branca, o governo “não espera que todos os países assinem”, mas vai priorizar “aqueles mais afetados pela migração e os fluxos de refugiados”.

A lista de países convidados à reunião de cúpula provocou discórdia, depois que o governo Biden optou por excluir Nicarágua, Cuba e Venezuela.

Em resposta, alguns países, liderados pelo México, decidiram boicotar o evento, como Bolívia e Honduras.

Outros participam no encontro, mas como porta-vozes dos que não foram convidados ou para expressar suas reivindicações.

– “Imperdoável”-

Na primeira sessão plenária da cúpula, na quinta-feira, o presidente argentino Alberto Fernández confrontou Biden ao discursar na qualidade de presidente ‘pro tempore’ da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), organização que conta com os três países excluídos pelos Estados Unidos.

“O fato de ser país anfitrião da Cúpula não outorga a capacidade de impor o direito de admissão”, disse.

O primeiro-ministro de Belize, John Briceño, acompanhou o protesto. “Esta reunião de cúpula pertence a todas as Américas. Portanto, é imperdoável que todos os países das Américas não estejam aqui”.

Além dos protestos pelas exclusões, existe, segundo a Argentina, a necessidade de “reconstruir instituições que foram pensadas” para a integração.

“A OEA, se quer ser respeitada e voltar a ser a plataforma política regional para a qual foi criada, deve ser reestruturada, removendo imediatamente aqueles que a dirigem”, disse Fernandez, somando-se às críticas do México ao secretário-geral da organização, Luís Almagro.

Irritado com as exclusões, o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador não compareceu à cúpula e enviou o chanceler Marcelo Ebrard, que chamou as ausências de “erro estratégico” e defendeu medidas para “refundar a ordem interamericana”.

Além da Declaração de Los Angeles sobre Migração e Proteção, a reunião de cúpula deve adotar projetos de compromisso político sobre a governança democrática, saúde e resiliência, mudanças climáticas e sustentabilidade ambiental, transição para energia limpa e a transformação digital.