A representante de Comércio dos Estados Unidos, Katherine Tai, defendeu nesta quinta-feira (15) o uso de regras comerciais internacionais para combater as mudanças climáticas, uma semana antes de uma cúpula virtual sobre o clima convocada pelo presidente Joe Biden.

O encontro, marcado para os dias 22 e 23 de abril, vai reunir quase 40 líderes mundiais. Entre os convidados estão os chefes de Estado da Argentina, Brasil, Colômbia, Chile e México.

“Por muito tempo, a comunidade empresarial tradicional resistiu à ideia de que a política comercial pode ser uma ferramenta legítima para ajudar a resolver a crise climática”, disse Tai, em seu primeiro discurso no cargo.

“Como tantas vezes vimos com as questões trabalhistas, nos escondemos atrás da ideia de que tudo isso é uma questão de política interna e que não precisamos enfrentar a árdua tarefa de construir um consenso internacional em torno de novas regras”, frisou.

Em uma videoconferência organizada pelo instituto de análise política Center for American Progress, Tai argumentou que a falta de integração das questões ambientais na regulamentação do comércio global “ignora a realidade de que as regras existentes da globalização incitam uma pressão descendente sobre a proteção ambiental”.

“No futuro, o comércio terá um papel a cumprir”, declarou.

– Madeira ilegal e pesca predatória –

Tai prometeu fazer cumprir as disposições do T-MEC, o acordo de livre comércio entre México, Estados Unidos e Canadá atualizado, segundo ela, com os mais elevados padrões ambientais.

Mas, embora tenha elogiado esse avanço, ela pediu que se vá além para lidar com os custos econômicos dos desafios ambientais por meio do comércio.

A representante citou “dois problemas práticos”: acabar com a extração ilegal de madeira e combater a pesca predatória que está destruindo o ecossistema marinho.

“As florestas são o pulmão de nosso planeta e devemos usar políticas comerciais (…) para protegê-las”, afirmou. “Mas devemos estar cientes de que só abordaremos verdadeiramente a escala global deste problema por meio de regras globais”, insistiu.

O mesmo ocorre com a solução do problema da pesca intensiva e da poluição dos oceanos, que destroem o meio marinho. “É por isso que as negociações de pesca da Organização Mundial do Comércio (OMC) são tão cruciais”, apontou ela.

– Cadeias de abastecimento “estratégicas” –

O que fazer para mitigar as mudanças climáticas? De acordo com Tai, “o desenvolvimento de tecnologias, bens e serviços ambientais inovadores e o desenvolvimento de cadeias de abastecimento internacionais estratégicas para o comércio serão fundamentais”.

Da energia limpa a veículos de baixa emissão e outras tecnologias, “o acesso confiável a esses bens e serviços será essencial para nossa transição para emissões zero até 2050”, explicou.

O discurso da representante comercial norte-americana segue a política de Biden de utilizar todos os departamentos do governo, e não apenas agências ambientais, na luta contra as mudanças climáticas.

Em janeiro, o presidente democrata assinou um decreto no qual indicava que o tema do clima seria “um elemento essencial da política externa e da segurança nacional dos Estados Unidos”.

Recentemente, revelou um plano de mais de 2 trilhões para investimentos em infraestrutura durante os próximos oito anos, o que deve dar um impulso notável à implementação de veículos elétricos e à transição para energias renováveis.

Para o governo Biden, os esforços do país para proteger o clima não devem se traduzir na exportação de indústrias poluentes para países com padrões mais baixos. E apenas uma ação global e combinada é capaz de fazer frente a esse desafio.