Os Estados Unidos avaliam que a guerra na Ucrânia será longa e que o presidente russo, Vladimir Putin, quer estendê-la até a Transnístria, ainda que isso implique em uma escalada militar e no estabelecimento da lei marcial na Rússia, segundo o serviço de Inteligência.

“Putin se prepara para um longo conflito na Ucrânia, durante o qual tem a intenção de atingir objetivos para além do Donbass”, declarou a diretora de Inteligência Nacional, Avril Haines, ao Congresso, enquanto os parlamentares se preparavam para autorizar um apoio de 40 bilhões de dólares à Ucrânia.

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O Exército russo renunciou ao controle de Kiev e se mobilizou no sul e leste do país, oficialmente para “libertar” as regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, no Donbass, o que permitira a Moscou controlar totalmente o mar de Azov e lhe garantiria uma continuidade territorial com a Crimeia, península anexada por Moscou em 2014.

Mas este reposicionamento no Donbass “é apenas temporário” e o Exército russo quer continuar seu avanço, estabelecendo “uma ponte terrestre” até a Transnístria, uma região da Moldávia que se separou em 1990, apoiada por Moscou.

É “possível” que as forças russas alcancem este objetivo nos próximos meses, mas “não poderão chegar à Transnístria e incluir Odessa sem decretar uma forma de mobilização geral”, destacou Haines.

Putin “conta possivelmente com um enfraquecimento da determinação dos Estados Unidos e da União Europeia, quando a escassez de alimentos for agravada pelo aumento dos preços da energia”, advertiu.

– “Trajetória imprevisível” –

As ambições de Putin superam a capacidade do Exército russo e isso “provavelmente significa que nos próximos meses evoluiremos para uma trajetória mais imprevisível e provavelmente uma escalda”.

O chefe da agência de inteligência militar, o general Scott Berrier, afirmou que os combates entre as forças russas e ucranianas foram “estancados”. Mas isto pode mudar.

“Se a Rússia não declarar a guerra e se mobilizar, o estancamento se prolongará e não vejo saída para nenhuma das partes”, disse.

“Caso se mobilizem e declarem guerra, milhares de soldados serão incorporados aos combates, mesmo que não estejam suficientemente treinados ou que não sejam tão eficazes (quanto as forças atuais), terão um efeito massivo”, advertiu.

Avril Haines, que supervisiona todas as agências de inteligência americana, inclusive a CIA, reforçou que Washington não acredita que Vladimir Putin esteja disposto, por ora, a usar armas nucleares.

“Continuamos acreditando que o presidente Putin só autorizará o uso de armas nucleares se perceber uma ameaça existencial para o Estado ou o regime russo”, afirmou.

No entanto, o líder russo poderia recorrer a elas “se perceber que está perdendo a guerra na Ucrânia, se a Otan agir ou se preparar para intervir”, acrescentou.

Mesmo nesta hipótese, “é provável que envie sinais” antes de fazê-lo, concluiu.