Uma nova era glacial se aproxima dos Estados Unidos. Não no clima, mas na economia. A constatação de que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, terá de elevar os juros e reduzir o dinheiro na economia em níveis mais intensos do que o esperado desencadeou uma onda de revisões nas estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) americano.

O movimento mais recente nesse sentido veio do banco de investimentos Goldman Sachs, reconhecido pela precisão de suas projeções. Na primeira semana de junho, o principal executivo do banco, John Waldron, disse que o clima para a economia e para os investimentos era “um dos mais complexos que já havia experimentado” devido a várias crises simultâneas: a alta da inflação, a necessidade de os bancos centrais elevarem os juros e a guerra na Ucrânia.

Em um relatório divulgado no domingo (12), Jan Hatzius, economista do banco, reduziu a projeção de crescimento para o PIB em 2022 de 2,6% para 2,4%. A projeção para 2023 caiu ainda mais, recuando de 2,2% para 1,6%. Dias antes, o presidente do banco JP Morgan, Jamie Dimon, havia alertado os investidores para se prepararem para “um furacão, do qual não se sabe o tamanho.”

POLÍTICA RESTRITIVA Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, deve acelerar a elevação dos juros para conter a inflação. (Crédito:OLIVIER DOULIERY/AFP)

O problema é que esses problemas pressionam a inflação e obrigam o Fed a elevar os juros. Nos primeiros dias de junho, a expectativa era que o presidente do Fed, Jeremy Powell, anunciasse uma alta de 0,50 ponto percentual nas taxas. Com isso, os juros referenciais americanos, os Fed Funds, subiriam para 1,25% ao ano.

No entanto, na segunda-feira (13), os mercados acionários desabaram. O índice Nasdaq, de empresas de tecnologia, caiu 4,7% no dia e o índice S&P 500, de ações em geral, recuou 3,9%. A rentabilidade dos títulos referenciais de dez anos do Tesouro americano chegou a 3,44% ao ano, nível mais alto desde abril de 2011. O que provocou essa avalanche de prejuízos no mercado foi a perspectiva de que a alta dos juros será mais rápida e mais intensa, podendo chegar a 0,75 ponto percentual. Apesar de a diferença parecer refrescante para os empresários brasileiros, curtidos na salmoura de uma Selic superior a 13% ao ano, esse 0,25 ponto percentual faz toda a diferença nos cálculos de rentabilidade das empresas, com impactos diretos e profundos no preço das ações.

IMPACTO A diferença de comportamento entre os principais índices de ações americanos mostra o impacto dessa mudança de expectativas. Desde o início do ano, o S&P 500 recuou 22,1%, ao passo que o índice Nasdaq caiu 31,6%. A diferença de quase dez pontos percentuais deve-se ao fato que as ações de tecnologia são mais dependentes de juros baixos e abundância na oferta de dinheiro. Sem esses elementos, o valor de mercado dessas empresas, que depende de suas perspectivas de crescimento, desaba.

Onde investir? Segundo o analista da empresa americana independente Steven Cress, a tendência é que os papéis de tecnologia e os criptoativos sejam as mais penalizadas. Sua recomendação são papéis contracíclicos clássicos, de setores menos afetados pelas oscilações na temperatura da economia. “Papéis de energia, alimentos e varejo de alimentos são os que tendem a sofrer menos nesses momentos”, afirmou. Uma receita para não se resfriar no inverno do PIB.