O secretário de Estado americano, Antony Blinken, pediu nesta quarta-feira (23) a retirada das forças estrangeiras da Líbia, pouco antes de uma reunião em Berlim sobre o processo de paz no país, desestabilizado por um conflito que começou há uma década.

Todos os atores da região e, pela primeira vez, o governo de transição líbio vão participar na conferência a nível de ministros das Relações Exteriores.

“O acordo de cessar-fogo de 23 de outubro deve ser aplicado plenamente, incluindo a retirada de todas as forças estrangeiras da Líbia”, disse Blinken em uma entrevista coletiva em Berlim com o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas.

“Compartilhamos (com a Alemanha) o objetivo de uma Líbia soberana, estável, unificada e segura, livre de qualquer ingerência estrangeira. Isso é o que o povo merece, e é essencial para a segurança regional”, declarou o secretário de Estado, que iniciou hoje uma turnê europeia.

Em 19 de janeiro de 2020, uma primeira conferência promovida pela ONU reuniu na capital alemã os líderes dos países envolvidos no conflito. O resultado alcançado foi um frágil acordo para encerrar o conflito.

Agora, voltam a se reunir nesta quarta, em Berlim, na tentativa de preparar o terreno para a realização de eleições na Líbia no final do ano. Também tratarão da retirada de tropas estrangeiras e de mercenários estacionados no país.

Dez anos após a queda de Muammar Khadafi, a cúpula permitirá fazer um balanço da transição política neste país do norte da África.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, discursará por videoconferência.

O principal ponto será garantir a realização simultânea de eleições presidenciais e legislativas em 24 de dezembro, como o governo de transição, liderado pelo primeiro-ministro Abdelhamid Dbeibah, prometeu.

Mas persistem dúvidas sobre se os governantes estão realmente interessados em tais eleições.

O ex-ministro do Interior líbio Fathi Bachagha, provável candidato às primeiras eleições presidenciais por sufrágio direto, pediu ao governo que não as adiasse.

“É necessário que a missão da ONU tome todas as medidas a esse respeito e assuma suas responsabilidades para que as eleições sejam realizadas na data programada”, declarou Ahmad al-Misrari, porta-voz do autoproclamado Exército Nacional Líbio (ENL), liderado pelo marechal Khalifa Haftar.

A União Europeia conta com processo político fomentado pela ONU para resolver o problema dos migrantes que partem da costa líbia, muitas vezes em barcos sobrecarregados e precários, para chegar à Europa.

Mas nas últimas semanas, divisões ressurgiram entre duas potências rivais, na Tripolitânia (oeste) e na Cirenaica (leste).

Uma trégua oficial está em vigor desde outubro, mas o enviado da ONU para a Líbia, Jan Kubis, reconheceu em maio que o processo para a unificação das instituições divididas e a retirada das forças estrangeiras estava “estagnado”.

Em dezembro passado, a ONU estimou em cerca de 20.000 o total de mercenários e combatentes estrangeiros na Líbia: russos, do grupo privado Wagner, chadianos, sudaneses e sírios.

Centenas de soldados turcos também estão presentes no território, no âmbito de um acordo bilateral com o ex-governo de Trípoli.

“O número de combatentes não diminuiu significativamente, mas temos um cessar-fogo aceito e respeitado em todos os lugares”, informou uma fonte diplomática.

Mas os diplomatas da ONU temem que uma dispersão abrupta desses homens armados represente uma nova ameaça para a região.

O presidente do Chade, Idriss Déby Itno, foi morto em abril durante uma ofensiva de rebeldes chadianos procedentes da Líbia.