WASHINGTON (Reuters) – Os Estados Unidos enfrentam “níveis inaceitáveis de inflação” e uma postura orçamentária apropriada é necessária para ajudar a atenuar as pressões de preços sem prejudicar a economia, disse a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, a senadores nesta terça-feira.

Em audiência ao Comitê de Finanças do Senado norte-americano, Yellen rebateu afirmações de parlamentares republicanos de que a inflação mais alta em 40 anos foi causada pelo pacote de gastos contra os efeitos da Covid-19 de 1,9 trilhão de dólares proposto pelo presidente democrata Joe Biden no ano passado.

“Estamos vendo inflação alta em quase todos os países desenvolvidos ao redor do mundo. E eles têm políticas fiscais muito diferentes”, afirmou Yellen. “Portanto, não pode ser que a maior parte da inflação que estamos experimentando reflita o impacto do Plano de Resgate Americano.”

Yellen disse acreditar que a maior parte da inflação está sendo causada por incompatibilidades de oferta e demanda, como a demanda excessiva por bens em vez de serviços durante a pandemia e graves interrupções na cadeia de suprimentos. Os altos preços de energia e alimentos causados ​​pela invasão da Ucrânia pela Rússia também elevaram a inflação, afirmou.

Ela insistiu que enfrentar a alta dos preços é a principal prioridade de Biden e disse que elementos de um pacote com foco social e climático proposto pelo presidente dos EUA poderiam ajudar a reduzir custos para os norte-americanos, inclusive para medicamentos sob receita e iniciativas de energia limpa.

“Enfrentamos desafios macroeconômicos atualmente, incluindo níveis inaceitáveis de inflação, bem como os ventos contrários associados às interrupções causadas pelo efeito da pandemia nas cadeias de suprimentos e aos efeitos das perturbações do lado da oferta nos mercados de petróleo e alimentos, resultantes da guerra da Rússia na Ucrânia”, disse Yellen em comentários preparados para a audiência.

INTERROGATÓRIO NO CONGRESSO

Yellen ficou sob fogo dos republicanos depois de admitir que estava “errada” no ano passado sobre o caminho que a inflação tomaria. Ela enfrentará perguntas difíceis sobre o assunto de integrantes tanto do painel do Senado quanto de um comitê orçamentário da Câmara dos Deputados dos EUA na quarta-feira.

“Bem, quando eu disse que a inflação seria transitória, o que eu não antecipava era um cenário em que acabaríamos enfrentando várias variantes da Covid-19 que atrapalhariam nossa economia e as cadeias de suprimentos globais, e eu não previa os impactos sobre preços de alimentos e energia que vimos desde a invasão da Ucrânia pela Rússia”, disse Yellen.

Ela afirmou que o Federal Reserve tem a responsabilidade primária de reduzir a inflação e que respeita a independência do banco central na definição da política monetária.

“Para amortecer as pressões inflacionárias sem prejudicar a força do mercado de trabalho, uma postura orçamentária apropriada é necessária para complementar as ações de política monetária do Federal Reserve”, disse ela.

O governo Biden ainda está pressionando por uma versão reduzida de sua agenda de gastos sociais e climáticos, que oferecerá créditos fiscais para tecnologias de energia limpa e reforma da precificação de medicamentos.

Yellen disse que, embora os EUA sejam um grande produtor e exportador de energia, é “praticamente impossível” para o país se isolar dos choques de preços do mercado de petróleo, de forma que é necessário avançar com a transição para fontes de energia renováveis.

Em relação aos esforços para aumentar a pressão econômica sobre a Rússia, ela afirmou que EUA estão “extremamente ativos” em discussões com países europeus sobre maneiras de limitar as receitas de petróleo de Moscou.

PLANOS DE ACORDOS TRIBUTÁRIOS

Yellen também disse que está “muito concentrada” em prosseguir com um acordo de reforma tributária global entre 137 países, incluindo um imposto mínimo global de 15%.

“Tenho esperança de que o Congresso também implemente este imposto mínimo global como parte de sua agenda legislativa”, disse.

Ela afirmou que outra parte do acordo fiscal, uma realocação de direitos tributários para países de mercado, pode ter um pequeno impacto nas receitas fiscais dos EUA.

(Por David Lawder e Andrea Shalal)

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