A quarta-feira (16) ficará marcada como o fim de uma era na política monetária mundial. Pela primeira vez, desde 2018, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, elevou a taxa de juros no País em 0,25 ponto percentual. Na prática, o BC americano vai deixar o juro zero para trás e passará a aplicar porcentuais no intervalo de 0,25% a 0,50% ao ano. Mais do que um simples aumento, a decisão indica o início do ciclo de alta de juros na maior economia do mundo para combater a inflação persistente no país, que bateu recorde atingindo o maior nível em 40 anos, para 7,5% em fevereiro.

Desde o início de março, o presidente do Fed, Jerome Powell, já indicava em seu depoimento ao Congresso norte-americano que iria começar a apertar os juros, se a inflação continuasse. A tarefa é desagradável, mas justificada diante da expectativa de alta dos preços globais de energia e commodities. A previsão do Federal Open Market Committee (Fomc), versão americana do Copom, é de que os juros nos Estados Unidos devem girar em torno de 1,75% a 2% até o fim deste ano e até 3% em 2023. Para chegar a isso, Powell praticamente já deixou certo que haverá mais seis altas de 0,25 ponto percentual nas seis reuniões agendadas até dezembro.

Enquanto isso, no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), elevou pela nona vez seguida a taxa básica de juros do País. O pano de fundo também é a pressão da inflação. A alta de preços medida pelo IPCA em fevereiro atingiu a marca de 1,01%. A maior variação para o mês desde 2015, acumulando aumento de 1,56% neste ano e de 10,54% em 12 meses, segundo dados do IBGE. Diante desse cenário, o aumento foi de um ponto percentual, elevando a Selic para 11,75% ao ano. Na reunião de fevereiro, a alta havia sido de 1,50 ponto. Nessa toada, o BC prevê encerrar o ano com juros em 12,75%. Com isso, o banco, comandado por Roberto Campos Neto, já admite que a inflação medida pelo IPCA para este ano chegará a 7,1%, superando a meta de 5%. Claro que os cenários de juros mais altos são bem diferentes entre Brasil e os Estados Unidos. Lá a economia está forte, com empregos e demanda firme. Já no Brasil o que se vê é um aumento dos preços, mas com a economia fraca. Segundo o head de análise e sócio da Levante, Enrico Cozzolino, os aumentos tanto aqui como lá eram esperados. “A grande questão é se a política monetária vai ter força para conter a inflação com tanta pressão internacional”, disse.

Sergio Lima

Na análise do economista-chefe do Itaú Unibanco e ex-diretor do BC, Mário Mesquita, o comunicado do BC indica que a Selic seguirá subindo após a reunião de maio, quando deverá ser elevada para 12,75% ao ano, e avançará até 13%. O patamar encerraria o processo de alta.

CENÁRIO EXTERNO O que chama atenção no comunicado é que o Copom passou a considerar mais o cenário internacional, especialmente os preços do petróleo. Segundo o sócio da gestora de recursos Nexgen Capital, Luiz Carlos Corrêa, “o comunicado cita que o mercado externo se deteriorou substancialmente, principalmente com a preocupação com a alta das commodities”.

Segundo os especialistas, o comunicado é claro. “A atuação do Comitê visa combater os impactos secundários do atual choque de oferta em diversas commodities. Caso esses se provem mais persistentes ou maiores que o antecipado, o Comitê estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário.” E o texto alerta que o ajuste vai demorar. Segundo Corrêa, esse prolongamento do ciclo de elevação da taxa de juros pode aumentar o apetite do investidor para ativos de menor risco, especialmente os ligados a índices de inflação, e reduzir o interesse pelas ações.