O governo americano começou a aplicar tarifas de 10% sobre novos bens importados da China por US$ 200 bilhões, em mais um passo na guerra comercial entre ambas as potências, que ameaça o crescimento econômico mundial.

As tarifas entraram em vigor no primeiro minuto desta segunda-feira (1h01, no horário de Brasília). A expectativa é que Pequim responda quase imediatamente, com tarifas de importação de 5%, ou 10%, sobre produtos americanos, por 60 bilhões de dólares.

A troca de tarifas punitivas entre as maiores economias do mundo começou em julho, quando foram impostas, reciprocamente, tarifas de 25% a mercadorias, na ordem de 50 bilhões de dólares.

As tarifas anunciadas pelo presidente Donald Trump já afetam 12% das importações totais dos Estados Unidos este ano.

Desde que chegou à Casa Branca em janeiro de 2017, Trump exige que a China acabe com práticas comerciais que ele considera desleais e que estariam retirando investimentos e destruindo empregos nos Estados Unidos.

“Essas práticas são uma séria ameaça a longo prazo para a prosperidade econômica dos Estados Unidos”, disse ele, ao anunciar as novas tarifas na semana passada.

Pequim respondeu nesta segunda-feira, acusando os Estados Unidos de fazerem “falsas acusações” e de utilizarem “o aumento das tarifas e outros meios de intimidação econômica para tentar impor seus próprios interesses na China por meio de extrema pressão”.

A crítica foi emitida pelo Conselho de Estado chinês em um documento sobre as tensões econômicas e o comércio com Washington, estimando que, desde a chegada de Trump “com o slogan ‘Estados Unidos primeiro’, Washington adotou o unilateralismo, protecionismo e a hegemonia econômica”.

No domingo, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, garantiu à rede Fox que seu país venceria a guerra comercial.

A China elaborou uma lista de 5.200 bens americanos com tarifas entre 5% e 10% que incluem produtos-chave para os Estados Unidos, como gás natural liquefeito, eletrônicos, couro e preservativos.

As novas medidas de Pequim significam que a China imporá tarifas sobre produtos americanos no valor de 110 bilhões de dólares, isto é, quase tudo que a China compra dos Estados Unidos.

– ‘Fase três’ –

Trump agora ameaça passar para a “fase três” da guerra comercial, com tarifas sobre produtos por um valor adicional de 267 bilhões de dólares, isto é, todos os bens que os Estados Unidos compram da China.

Neste contexto, a esperança de resolver o conflito diminui cada vez mais. O “Wall Street Journal” informou que Pequim cancelou uma visita de sua equipe de negociação a Washington, marcada para 27 e 29 de setembro.

As últimas negociações, em agosto, não avançaram.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou na semana passada que o confronto comercial entre a China e os Estados Unidos poderia ter um “impacto significativo” nas duas economias.

E a agência de classificação financeira Ficht cortou sua estimativa de crescimento econômico na China para 2019.

A nova ofensiva contra as importações chinesas têm como alvo, entre outros, receptores de voz digital, módulos de memória, processadores e fotocopiadoras.

No entanto, Washington teve de remover de sua lista inicial cerca de 300 tipos de produtos – como relógios inteligentes, dispositivos bluetooth, assentos de automóveis e boosters para crianças, ou capacetes de bicicleta – em razão das reclamações de empresas como Walmart e Apple.

O Walmart alertou que, se mais tarifas forem impostas aos produtos chineses, não terá escolha a não ser aumentar os preços em suas lojas.

As autoridades americanas insistiram em que a aplicação gradual das tarifas dará às empresas tempo para encontrar novos fornecedores.

Os analistas, que acusam os Estados Unidos de lançar “a maior guerra comercial da história”, acreditam que Pequim pode adotar medidas mais duras contra as empresas americanas na China, ou restringir as exportações de produtos cruciais.