Os Estados Unidos instaram nesta segunda-feira (1º) a Arábia Saudita a tomar mais medidas contra os responsáveis pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2018, em um momento em que Washington recebe cada vez mais críticas por não punir o príncipe-herdeiro de Riade por seu envolvimento nesse crime.

Um relatório de inteligência americana divulgado na sexta-feira acusa o príncipe-herdeiro, Mohamed bin Salman, de ter “validado” o assassinato do jornalista saudita.

Khashoggi, um colaborador do The Washington Post que vivia nos Estados Unidos, foi atraído para o consulado saudita em Istambul, onde foi estrangulado e esquartejado.

Sete das 15 pessoas que voaram para Istambul para a operação contra Khashoggi faziam parte da Força de Intervenção Rápida, uma unidade de elite saudita, de acordo com o relatório, mantido como confidencial durante a presidência de Donald Trump, um aliado próximo de Riad.

“Instamos a Arábia Saudita a desmantelar esse grupo”, declarou o porta-voz da diplomacia dos EUA, Ned Price, à imprensa nesta segunda.

Os Estados Unidos já sancionaram a Força de Intervenção Rápida, mas se recusaram a punir Bin Salman para evitar o rompimento de suas relações com Riad. O documento recém-divulgado, no entanto, aponta diretamente para o príncipe.

Essa unidade “existe para proteger o príncipe-herdeiro, só responde a ele e já participou diretamente, antes disso, de operações para silenciar dissidentes no reino e no exterior por ordem do príncipe herdeiro”, escreveram os serviços de inteligência.

Seus membros “não teriam participado da operação contra Khashoggi sem a autorização de Mohamed bin Salman”, acrescentaram.

– “Extremamente problemático” –

O governo de Joe Biden solicitou a Riade “reformas institucionais sistêmicas, assim como mecanismos de controle para garantir que as atividades e operações contra dissidentes cessem”, segundo Price.

O porta-voz também pediu às autoridades sauditas que façam mais pelos direitos humanos. “Instamos a Arábia Saudita a tomar medidas adicionais para suspender a proibição de viagens” imposta a ativistas recém-libertados, disse.

O presidente Biden, que havia prometido antes de sua eleição que os líderes sauditas seriam responsabilizados pela morte de Khashoggi, agora está sendo criticado pela timidez de sua resposta.

Vários congressistas democratas pedem a ele que penalize Mohamed bin Salman, exigência compartilhada pela namorada turca do jornalista assassinado, Hatice Cengiz, que considera “imperativo” que o príncipe herdeiro seja “punido o quanto antes”.

“Acho que é extremamente problemático ou até perigoso reconhecer a culpa de alguém para então transmitir a ele que nada será feito contra ele”, afirmou em Genebra a relatora especial da ONU sobre execuções extrajudiciais, Agnès Callamard.

O governo dos EUA tentou justificar sua posição em relação a esse aliado fundamental no Oriente Médio. “Pensamos que podemos influenciar mais essa colaboração com um reajuste do que com uma ruptura”, disse o Departamento de Estado.

A Casa Branca voltou a mencionar uma regra não escrita, nem sempre aplicada, segundo a qual os Estados Unidos não sancionam os líderes dos países com os quais mantêm relações diplomáticas.

Diante de inúmeras perguntas da imprensa, a porta-voz da presidência, Jen Psaki, afirmou que Washington não desconsidera adotar medidas contra Bin Salman no futuro.

Price também sugeriu a possibilidade de adicionar o príncipe, que governa de fato o reino, à lista de sauditas banidos do território americano.

O porta-voz da diplomacia dos EUA reiterou, porém, que seu país apoia Riad diante dos ataques de grupos pró-iranianos e ressaltou que esse apoio permitiu que os sauditas desarticulassem um atentado de rebeldes huthis no Iêmen no fim de semana.