Os Estados Unidos anunciaram nesta quarta-feira (21) novas sanções contra a junta militar birmanesa, cuja repressão aos protestos pró-democracia deixou cerca de 250.000 deslocados, segundo a ONU.

O Tesouro americano anunciou sanções contra as empresas públicas birmanesas que controlam as exportações de madeira e pérolas que constam de sua lista negra, pois geram renda para a junta militar no poder.

As medidas do Tesouro limitam o acesso ao sistema financeiro internacional às empresas Myanmar Timber Enterprise e Myanmar Pearl Enterprise, e proíbem a qualquer pessoa ou empresa americana, inclusive bancos que tiverem filial nos Estados Unidos, realizar qualquer tipo de transação com elas.

As sanções também congelam os ativos destas empresas nos Estados Unidos.

Washington já tinha imposto sanções coletivas a dirigentes do exército birmanês, que tomaram o poder em 1º de fevereiro, após depor a dirigente civil Aung San Suu Kyi, e reprimem com brutalidade os protestos opositores, deixando centenas de mortos.

A repressão provocou o deslocamento de cerca de 250.000 pessoas, denunciou o relator especial da ONU, Tom Andrews.

Ao menos 738 pessoas morreram e 3.300 foram detidas pelo exército na repressão às manifestações contra o golpe militar.

“Horrorizado em saber que os ataques perpetrados pela junta já provocaram o deslocamento de cerca de um quarto de milhão de birmaneses”, tuitou Andrews nesta quarta. “O mundo deve agir imediatamente para responder a esta catástrofe humanitária”.

– Bombardeios aéreos –

A organização humanitária cristã Free Burma Rangers estimou na semana passada que pelo menos 24.000 civis foram deslocados devido aos bombardeios aéreos e terrestres realizados pelo exército no estado de Karen (sudeste).

“Os bombardeios aéreos cessaram, mas os terrestres aumentam”, disse à AFP seu diretor, David Eubank. A maioria destas pessoas deslocadas é de agricultores que cultivam arroz. A impossibilidade de se ocupar de seus cultivos ameaça provocar fome extrema nos próximos meses, alertou.

Padoh Mann Mann, porta-voz de uma brigada da União Nacional de Karen (KNU), uma das facções étnicas do país, assegurou nesta quarta que mais de 2.000 pessoas buscaram refúgio na Tailândia e outras milhares estão deslocadas dentro das fronteiras.

“Elas se escondem na selva perto de seus povoados”, disse.

No sábado está prevista em Jacarta uma cúpula dos países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) para analisar a situação em Mianmar.

O ministério tailandês das Relações Exteriores anunciou na semana passada que o chefe da junta, general Min Aung Hlaing, participará da cúpula especial, o que suscitou a revolta das organizações defensoras dos direitos humanos.

“Min Aung Hlaing, que é alvo de sanções internacionais por seu papel nas atrocidades militares e na repressão brutal das manifestações pró-democracia, não deveria ser bem-vindo em um encontro internacional para examinar uma crise que provocou”, alertou Brad Adams, da Human Rights Watch.

As autoridades birmanesas libertaram o jornalista independente Ko Latt, que foi detido há um mês em Naipyidau, a capital.

Ao menos 70 jornalistas foram detidos desde o golpe de Estado e 38 continuam detidos, segundo a organização Reporting ASEAN.

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