Em um mundo ideal para Paulo Guedes, futuro ministro da Economia de Jair Bolsonaro (PSL), o Brasil poderia ser hoje mais parecido com o Chile. Lá, a perspectiva de crescimento para 2018 é de 4%, a renda per capita chegou a US$ 25 mil — nível de países desenvolvidos —, e a posição ocupada no ranking para o ambiente de negócios do Banco Mundial é a de número 56. No Brasil, o crescimento deve ser de 1,4%, a renda é de US$ 16 mil e o País ocupa a 109ª posição na mesma lista. Desde a década de 1970, o Chile vem se destacando pela distância que tomou de uma política protecionista para a indústria nacional e com forte presença de dinheiro público, como no restante da América Latina.

A guinada ocorreu quando o ditador Augusto Pinochet (1915-2006) montou uma equipe de economistas formados nos Estados Unidos, a maioria na Universidade de Chicago, onde Paulo Guedes também se formou, para implementar uma cartilha de redução do Estado, abertura para importações e reforço na exportação de comoditties, como o cobre. A atuação desses “Chicago Boys” pavimentou o caminho para o Chile se tornar uma economia mais dinâmica, com um potencial de crescimento que até hoje supera seus pares latinos. “A cultura mudou e a lógica de que o setor privado é quem tem protagonismo na economia se manteve”, afirma Antônio Carlos dos Santos, economista da PUC São Paulo.

Ainda que os resultados obtidos pelos chilenos possam servir de inspiração, ao menos teórica, para as mudanças necessárias à economia brasileira, comparar os dois países é injusto. O Brasil tem uma população de 208 milhões de pessoas e gera um PIB de US$ 3,3 trilhões. No Chile , 18 milhões de habitantes produzem riquezas que somam US$ 600 bilhões por ano. Enquanto as empresas chilenas ocupam a 33ª posição no ranking de competitividade do Banco Mundial, as brasileiras aparecem no 80º lugar. Essa clara vantagem chilena pode servir de exemplo para o Brasil. “A abertura da indústria provavelmente ajudou a melhorar a competitividade no longo prazo”, afirma Quinn Markwith, economista da consultoria Capital Economics.

Ainda é impossível saber se Guedes vai conseguir implementar à risca o manual de Chicago como o Chile que, ainda assim, o adaptou à sua própria realidade. A Codelco, gigante governamental de extração de cobre, por exemplo, nunca foi privatizada. Mas que o vizinho causa inveja ao futuro ministro, isso é inegável.