Os etíopes comparecem às urnas nesta segunda-feira (21) para eleições adiadas duas vezes e que provocam dúvidas sobre sua credibilidade, pois acontecem em um momento de guerra e fome na região de Tigré (norte).

Este é o primeiro teste eleitoral para o primeiro-ministro Abiy Ahmed, de 44 anos, que, ao chegar ao poder em 2018, prometeu que romperia com os antecessores para promover uma renovação democrática no segundo país mais populoso da África.

“Voto porque quero ver meu país transformado. Estas eleições são diferentes. Você pode escolher entre diferentes partidos políticos. No passado, havia apenas um”, disse à AFP Milyon Gebregziabher, de 45 anos, funcionário de uma agência de turismo.

“Acredito que esta eleição é mais democrática que a anterior”, afirmou Yordanos Berhanu, um contador de 26 anos.

Abiy Ahmed, prêmio Nobel da Paz em 2019, que libertou milhares de prisioneiros e estimulou o retorno dos opositores no exílio, prometeu que estas eleições legislativas e regionais seriam as mais democráticas da história da Etiópia.

“Em termos de independência das instituições, do processo, de acesso à mídia, podemos dizer que é muito melhor que nas eleições anteriores”, afirmou o opositor Dessalegn Chanie, um dos líderes do Movimento Nacional para Amhara (NAMA), a segunda região mais populosa do país.

Um dos principais líderes da oposição Berhanu Nega celebrou a participação que “parece boa”.

“Esperamos que termine de maneira limpa”, frisou.

O Partido da Prosperidade, de Abiy Ahmed, é o que apresenta mais candidatos ao Parlamento e é considerado favorito para obter maioria e formar governo após as eleições.

O pleito tem 40 partidos e 9.500 candidatos.

Na Etiópia, os deputados escolhem o primeiro-ministro, que lidera o governo, e o presidente, um cargo honorário.

Durante o fim de semana, a segurança foi reforçada em todo país, que tem uma população de 110 milhões de habitantes, informou o gabinete do primeiro-ministro.

As eleições estavam previstas para agosto de 2020. Foram adiadas em duas oportunidades, devido à pandemia de coronavírus e às dificuldades logísticas e de segurança.

Quase 38 milhões de eleitores estão registrados. Muitos deles não comparecerão às urnas nesta segunda-feira, porém, já que a votação acontece em apenas 20% das 547 circunscrições.

Muitas áreas, afetadas pela violência, por insurreições armadas, ou por problemas logísticos, votarão em 6 de setembro.

– A guerra –

Nenhuma data foi estabelecida para as 38 circunscrições de Tigré. Nesta região, onde o governo executa uma operação militar desde novembro, foram registradas atrocidades, e pelo menos 350.000 pessoas estão ameaçadas de fome, segundo a ONU.

A guerra prossegue, abalando a imagem pacificadora do primeiro-ministro e das eleições que ele desejava transformar em um legado de sua vontade democrática.

Em algumas circunscrições, sobretudo, na região de Oromia, a mais populosa do país, os partidos opositores boicotam as eleições para protestar contra a detenção de seus líderes, ou para denunciar a falta de credibilidade.

A respeito das dificuldades logísticas, os observadores recordam que, em condições normais, o Exército ajuda o governo. Agora, no entanto, está mobilizado em Tigré.

Alguns países questionam a credibilidade das eleições, sobretudo os Estados Unidos, preocupados com a exclusão de eleitores e com a detenção de opositores.

Vizinhos e rivais da Etiópia – Egito e Sudão – aguardam o resultado.

Os dois países são contrários à “Grande Barragem do Renascimento”, um projeto hidrelétrico no Nilo Azul, motivo de orgulho nacional na Etiópia, onde é considerada fundamental para a autonomia energética e para o desenvolvimento.

Egito e Sudão consideram o projeto uma ameaça para seu fornecimento de água.