Em 2022, o comportamento dos preços das criptomoedas, o ethereum em especial, pode ser dividido em duas fases. Do início do ano até o fim do primeiro semestre, as cotações desabaram devido à confirmação das expectativas dos especialistas. Os profissionais do mercado esperavam uma alta dos juros nos Estados Unidos e na Europa para conter a inflação. E em ambientes de política monetária mais restritiva, as cotações dos criptoativos desabam.

Porém, a partir de julho isso começou a mudar, e rápido. Entre dois meses os preços quase dobraram. De 12 de julho até 13 de agosto as cotações do ativo subiram 91%. E a justificativa é um evento há muito esperado, inúmeras vezes adiado e finalmente confirmado: uma atualização tecnológica, chamada The Merge, ou A Fusão, que tornará a mineração das criptomoedas mais rápida, barata e sustentável.

“O gasto de eletricidade para minerar o ethereum 2.0 vai ser 99% menor que o usado hoje”, afirmou o gestor de portfólio da corretora de criptomoedas Hashdex, João Marco Braga da Cunha. O gasto de energia será menor por causa da mudança tecnológica. Em vez de minerar (ou produzir) ethereums por meio de provas de trabalho (proof-of-work, ou PoW), o método novo terá as provas de participação (proof-of-stake, ou PoS).

Complicou? Não se assuste com esses nomes. A mineração atual das principais criptomoedas depende da execução, por computadores, de cálculos complexos – e cujo único propósito é minerar as moedas. Isso é um trabalho do computador, daí o proof of work, que consome quantidades avassaladoras de energia.

PRÓS E CONTRAS Mudança facilita a criação de moedas, mas eleva ameaça de inflação, diz Virgílio Lage, da Valor Investimentos. (Crédito:Divulgação)

Já na prova de participação, a ser implementada no ethereum, a produção de novas moedas vai depender da comprovação de que o produtor tem valores para serem convertidos. Por exemplo, dólares fiduciários, euros e moedas virtuais de bancos centrais. Basta provar que esse montante (ou stake) existe. “Além do menor consumo energético, a rede vai ficar mais rápida e eficiente. Com essa maior agilidade e segurança, a criptomoeda dá um passo à frente das concorrentes”, disse o especialista em cripto da Valor Investimentos Virgílio Lage.

O processo de transição já está em andamento. A primeira fase, conhecida como Bellatrix, foi concluída na última terça-feira (6). A mudança completa tem previsão de término entre terça-feira (13) e quinta-feira (15). No entanto, segundo os especialistas, essa mudança não será positiva apenas para o ethereum. Para a especialista em criptomoedas da casa de análises Top Gain Raquel Vieira, no curto prazo outras criptomoedas tendem a se valorizar. “Os mineradores devem ir para outras criptomoedas, o que pode fazer o preço delas dispararem.”

RISCOS No entanto, os especialistas advertem que essa mudança tem alguns riscos, principalmente a inflação das criptomoedas. Lage, da Valor, diz que como a criação será muito mais fácil do que por meio da mineração, pode haver uma produção ilimitada, que vai desvalorizar as moedas. “Seria algo equivalente a um governo que emite dinheiro sem controle.” Por isso, os especialistas não negam a possibilidade da queda nos preços do ethereum após a conclusão da transição. Raquel Vieira, da Top Gain, afirma que “a moeda vai continuar se valorizando até o final da transição, mas ela pode sofrer sofrerá uma forte correção com o término do processo”.

Outro ponto que pode não alegrar o mercado é a continuidade do aperto monetário. De acordo com o especialista em criptomoedas da Acqua Vero Investimentos Guilherme Bento, o ciclo de alta de juros vai continuar, o que torna o cenário para as criptomoedas adverso, independentemente do método empregado para sua produção. “Esse pode ser um fator primordial para prejudicar o mundo cripto e o ethereum está dentro dessa gama”, afirmou Bento.Para os especialistas, será pouco provável que a fusão permita ao ethereum desbancar a liderança do bitcoin. A criptomoeda mais antiga possui um limite de emissão em seu código fonte, que é 21 milhões de criptomoedas. Lage, da Valor Investimentos, diz que “isso faz com que ele tenha uma maior segurança e possa ser visto como uma reserva de valor”.