A família Etchenique está umbilicalmente ligada ao nascimento da indústria de eletrodomésticos no Brasil. Sob a liderança de Miguel Etchenique o clã transformou o Grupo Brasmotor (dono das marcas Brastemp e Consul) na maior potência verde-amarela do setor. Com a venda da companhia para a americana Whirlpool em 1997, os netos do fundador foram cuidar da vida. Montaram negócios nas áreas de propaganda (a Synapsys Marketing e Mídia) e de rastreamento de veículos (a Guard One). Ricardo Etchenique, no entanto, se manteve fiel à trajetória do avô. Só que desta vez do ?outro lado do balcão?.

E os números mostram que o empresário, de 48 anos, está fazendo um bom trabalho. Ao menos por enquanto. O faturamento de sua EletroDireto, atacadista de produtos de consumo criada em 2002, deve atingir a cifra de R$ 500 milhões em 2005. Ela já figura entre as cinco maiores compradoras de fabricantes como Electrolux, Philips, Panasonic, Gradiente e, claro, a Brasmotor. No total, são 120 mil itens (geladeiras, fogões, DVDs, aparelhos de som, entre outros) por mês. A maior parte segue para pequenos e médios comerciantes do interior do País e da periferia de capitais que, em geral, não têm cacife para negociar com a indústria. Tampouco dispõem de recursos para bancar a formação de estoque. Já ouviu falar em Rede Lar, Móveis Pinheiro? Elas integram a carteira de clientes da EletroDireto. Hoje, a empresa de Ricardo Etchenique atende 85 pontos-de-venda, número que deve crescer para 200 até o final deste ano: ?Estamos acertando com mais uma rede do Nordeste?, diz o empresário, sem revelar o nome da parceira. Comenta-se no mercado que se trata da piauiense Armazém Nordeste, com 40 lojas espalhadas pela região.

Etchenique começou a conceber a EletroDireto em 2001, quando deixou o posto de diretor de marketing da Brasmotor. Saiu da empresa com dinheiro no bolso, um sobrenome de peso e uma agenda capaz de alavancar qualquer empreendimento: ?Mas nada disso é garantia de sucesso?, ressalta Etchenique. Por isso, ele se associou a um grupo de executivos com larga experiência ?neste lado do balcão?. O primeiro cliente de porte chegou em 2003. Foi a concordatária Lojas Arapuã que não dispunha de crédito na indústria para abastecer suas prateleiras. Na seqüência, a EletroDireto mirou em lojistas com tradição na comercialização de móveis. É o caso da paulistana Kolumbus, para quem a equipe de Etchenique criou um sistema de informática e ajudou a definir a política de comercialização e promoção. ?Produtos eletroeletrônicos aumentam o tráfego de consumidores e ajudam a ampliar as receitas?, explica o sócio Arnaldo Carneiro. Hoje, o varejo responde por 70% do faturamento da EletroDireto. O restante vem de outras áreas. Na Internet, seu maior parceiro é o portal da Livraria Saraiva.

Etchenique também está de olho nos 23 milhões de aposentados e pensionistas. Ele acaba de assinar contrato com o Banco Cruzeiro do Sul para vender eletrodomésticos para este público. O chamariz são as reduzidas taxas de juros (3%) e o longo prazo de pagamento (36 meses), fixados pela instituição financeira. Além disto, decidiu testar a carreira de lojista, abrindo uma mega ponta de estoque em Cotia (SP). As concorrentes da EletroDireto vêem com tranqüilidade a desenvoltura do jovem Etchenique ?deste lado do balcão?. ?Há espaço para todo mundo?, diz o diplomático Michael Klein, herdeiro e principal executivo da Casas Bahia. Mas é bom não facilitar. Etchenique está acostumado a deixar os competidores para trás nas provas do campeonato brasileiro de Stock Car.