São Paulo, 15 – O presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool em Alagoas, Pedro Roberio de Melo Nogueira, vê os efeitos da crise do coronavírus sobre o setor como pontuais, ao considerar que, ao contrário de outros momentos problemáticos do passado, hoje os fundamentos para o combustível são positivos.

Em “live” promovida pela União Nacional da Bioenergia (Udop), ele ressaltou que justamente pelo cenário não ser exclusivo ao setor, a perspectiva para o longo prazo se mantém positiva, levando em consideração o bom volume de cana projetado para a próxima safra, além da implementação do programa Renovabio pelo governo. Ele diz que a crise atingiu fortemente a demanda pela quarentena “compulsória” devido a um problema sanitário. “Não tem mercado”, disse.

As disputas dentro da Organização dos Países Exportadores de Petróleos e aliados (Opep+), que derrubaram os preços de petróleo no mercado internacional desde o início de março, não devem durar muito tempo, avalia Nogueira. Segundo ele, é uma questão de tempo até que os países produtores cheguem a um consenso que possa equilibrar o setor do combustível, que enfrenta uma forte retração na demanda.

No cenário nacional, as preocupações estão nas questões de armazenamento, já que “a cana não pode esperar o momento da demanda adequada para ser colhida”. Por isso, o açúcar e etanol não vão deixar de ser produzidos, de acordo com Nogueira.

Nesse contexto, ao longo da transmissão, os participantes reforçaram a necessidade de políticas públicas no curto prazo para minimizar os efeitos da crise no setor. Dentre elas estão o aumento da Cide sobre a gasolina, a redução do PIS/Cofins sobre o etanol e uma linha de financiamento para garantir armazenagem.

Em relação ao programa de estímulo aos biocombustíveis RenovaBio, a aplicação não deve ser afetada pela crise neste ano, já que os resultados do plano serão sentidos no longo prazo. “Acreditamos que o programa pode ter ajustes, mas não nos conceitos. Do jeito que foi estruturado, atende o setor e merece ser levado adiante”, afirmou Nogueira na transmissão. A valorização da questão ambiental após a crise na saúde também deve aumentar a competitividade do biocombustível no longo prazo, avalia.

Quanto à produção de açúcar no Brasil, o integrante do Comitê Executivo do Grupo Tereos e presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp, Jacyr da Costa Filho, que também participou da “live”, acredita que o País deve recuperar a participação no mercado global que perdeu nos últimos anos com maior destino de cana-de-açúcar para produção de etanol. “Demanda tem, especialmente com a Argentina querendo repor estoques de alimentos e aumentando as importações de açúcar”, disse.

O executivo afirmou também que é possível que o açúcar brasileiro tenha uma concorrência menor, não apenas por causa dos efeitos do coronavírus, mas também por questões climáticas em grandes exportadores, como a seca que atinge a produção na Tailândia.

Na transmissão, os participantes também lembraram que os embarques de açúcar para o exterior em março superaram os de anos anteriores e que o ritmo positivo deve se manter em abril com a operação dos portos ainda aquecida.