A Embrapa Agronergia acaba de anunciar as duas primeiras variedades de cana-de-açúcar do mundo geradas a partir da edição genética com a técnica CRISPR (sigla, em inglês, para Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats). São organismos geneticamente modificados, mas não são transgênicas. E essa notícia traz pelo menos três grandes conquistas para o agronegócio brasileiro, com desdobramentos positivos para o País como um todo.

A primeira delas está nas vantagens agronômicas. Como informou a Embrapa, a variedade Cana Flex I apresenta maior digestibilidade da parede celular, o que otimiza o processo de hidrólise enzimática e a extração dos compostos da biomassa vegetal. Já a Cana Flex II gerou resultados como aumento de sacarose (15% nos colmos e 200% nas folhas) e maior liberação de glicose no processo de sacarificação (12%). Além do bagaço ser mais facilmente digerido na alimentação animal. Em outras palavras, há uma valiosa contribuição para a fabricação de etanol de primeira e de segunda gerações, tanto para a matriz energética brasileira mais limpa – e cujo preço disparou nos postos de combustíveis nos últimos meses – e para a produção pecuária.

Inflação: Combustíveis são os grandes ‘vilões’; etanol sobe 69,4% em 12 meses

NOBEL DE QUÍMICA – A segunda conquista é o potencial de utilização da biotecnologia CRISPR. Por se tratar de uma edição genética apenas com genes da mesma espécie, ela não é considerada transgenia, o que já evita todos os questionamentos e a rejeição que os transgênicos sofrem de uma parte significativa da sociedade. Mais que isso, o CRISPR é um procedimento bem mais simples, rápido, preciso e barato do que a transgenia. Não por acaso, as pesquisadoras que o descobriram em 2012, Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Douna, ganharam o Prêmio Nobel de Química em 2020.

Por fim, a terceira conquista dessa descoberta é mais uma comprovação de que investimentos em pesquisa garante resultados que beneficiam toda a sociedade e a economia do País. E quando se fala em investimentos nessa área, é preciso incluir aí oportunidade, capacitação e aprimoramento para as pessoas que pretendem se dedicar à ciência, e infraestrutura e condições adequadas para que possam de fato desenvolver estudos como este que a Embrapa acaba de apresentar. Vale reforçar: as primeiras variedades de cana do mundo geradas a partir do CRISPR, que podem beneficiar o mercado sucroenergético global, foram desenvolvidas no Brasil.