O uso de máscaras para prevenir a disseminação do novo coronavírus não era comum em março, quando um grupo de turistas alemães que teve contato com uma pessoa contaminada fez um longo voo de Israel para casa. No entanto, um surpreendente estudo descobriu que apenas dois passageiros de fora do grupo foram infectados na viagem.

Na breve pesquisa publicada terça-feira (18) no jornal médico americano JAMA Network Open, virologistas de um hospital universitário em Frankfurt, Alemanha, entraram em contato com todos os passageiros do voo para investigar o real risco que a presença de viajantes infectados com COVID-19 representa em um avião. Nenhum deles usou máscara no trajeto.

Em 9 de março, 102 passageiros embarcaram no voo de Tel Aviv para Frankfurt, que durou quatro horas e 40 minutos, incluindo o grupo de 24 turistas. As autoridades alemãs foram alertadas de que o grupo teve contato com um gerente de hotel em Israel que estava com o coronavírus.

Eles decidiram, então, testar os 24 turistas na chegada a Frankfurt. Sete deles tiveram resultado positivo, assim como outros sete mais tarde.

Quatro a cinco semanas depois, os pesquisadores contataram os outros 78 passageiros. Os 90% que responderam informaram com quem tiveram contato e quais sintomas tiveram, e muitos foram testados. Foram descobertos dois que provavelmente se contaminaram durante o voo: as duas pessoas sentadas na fileira dos sete casos originais, do outro lado do corredor.

No caso de vírus respiratórios, especialistas normalmente consideram como a zona de risco em um avião as duas fileiras de assentos na frente da pessoa infectada e as duas atrás. Para a surpresa dos pesquisadores, porém, um passageiro sentado na fileira diretamente à frente de dois dos turistas infectados não foi contaminado.

Essas pessoas tiveram uma longa conversa, disse à AFP Sandra Ciesek, chefe do Instituto de Virologia Médica de Frankfurt. Os dois passageiros sentados logo atrás de outro turista infectado também não contraíram a COVID-19. “Ficamos surpresos ao encontrar apenas duas transmissões prováveis”, afirmou Sebastian Hoehl, do mesmo instituto.

Como nem todos os passageiros foram testados, os cientistas não podem descartar que mais alguns estivessem infectados. O estudo ressalta que, de qualquer forma, a transmissão viral em aviões é de fato possível se os passageiros não estiverem usando máscaras.

Mas Hoehl observou que “como a taxa foi menor do que esperávamos e como nenhum dos passageiros estava usando máscara, acho que é reconfortante o fato de que não detectamos mais” casos.

Os pesquisadores também disseram que vários estudos sobre voos de repatriação de Wuhan, na China, no início da pandemia, revelaram que nenhuma transmissão ocorreu a bordo enquanto os passageiros estavam utilizando máscaras.