Os lagostins de água doce expostos à contaminação com antidepressivos se comportam de forma mais imprudente, emergem mais rapidamente dos esconderijos e passam mais tempo procurando por comida, de acordo com um estudo.

O artigo, publicado na revista Ecosphere, destaca os impactos indesejados que os medicamentos humanos podem ter no meio ambiente, pois alteram a dinâmica da cadeia alimentar e os processos do ecossistema.

Pesquisas anteriores sobre o assunto envolveram a injeção de antidepressivos em animais, mas as doses eram provavelmente mais altas do que as encontradas naturalmente em seus habitats.

“Nosso trabalho mostra que mesmo em concentrações ambientalmente realistas, um antidepressivo pode mudar o comportamento do lagostim”, disse à AFP o autor do estudo, Alexander “AJ” Reisinger, do Instituto de Ciências Agrícolas e Alimentares da Universidade da Califórnia.

Os antidepressivos que são eliminados diretamente ou excretados em pequenas quantidades acabam no meio ambiente, seja por meio de vazamentos de esgoto ou por estações de tratamento de água que não são projetadas para filtrá-los.

A equipe de Reisinger examinou o impacto dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (SSRIs), uma classe de compostos que aumentam os níveis de serotonina, essencial na regulação dos estados de humor.

Os SSRIs comumente prescritos incluem a fluoxetina, que atende pelo nome comercial Prozac, e citalopram, também conhecido como Celexa.

As agências dos EUA desaconselham o descarte de medicamentos não utilizados no vaso sanitário ou pia devido ao seu impacto no meio ambiente, e a Agência de Controle de Drogas (DEA) coordena os dias nacionais de devolução de medicamentos para ajudar no descarte adequado.

– Maior risco de depredação –

Os pesquisadores recriaram o ambiente natural dos crustáceos de água doce em um laboratório onde alguns foram expostos a níveis ambientalmente realistas de antidepressivos por duas semanas, enquanto um grupo de controle não foi exposto.

Os lagostins foram colocados em um esconderijo na entrada de um labirinto em forma de Y. Uma pista emitia sinais químicos para comida, enquanto a outra sinalizava a presença de outro lagostim.

Os crustáceos que foram expostos aos antidepressivos saíram do esconderijo mais cedo e passaram mais tempo procurando por comida, mas evitaram a lateral do labirinto que indicava outro lagostim, indicando que não estavam procurando o confronto.

O comportamento alterado pode expor o lagostim a um risco maior de predadores, incluindo enguias e tartarugas, bem como mamíferos e pássaros.

Também pode afetar todo o ecossistema aquático, já que os lagostins comem algas e matéria orgânica, mas esse efeito provavelmente seria posterior e requer mais estudos para confirmação, de acordo com os pesquisadores.

Reisinger disse que aplicar as descobertas ao mundo natural é um desafio devido à provável presença de vários poluentes nos cursos de água, incluindo metais pesados, hidrocarbonetos e outros produtos farmacêuticos.

“Para ter uma melhor compreensão do que isso pode afetar nossos riachos e rios ou cadeias alimentares, é necessário mais trabalho para entender as interações entre as misturas de diferentes poluentes”, disse ele à AFP.