Em estudo que sairá publicado na edição de fevereiro da revista científica Icarus, astrônomos revelam uma “zona cega” do nosso céu na qual asteroides potencialmente perigosos podem “se esgueirar” em direção à Terra sem serem detectados com antecedência.

Os cientistas financiados pela Nasa descobriram que objetos espaciais que se aproximam pela região leste do céu noturno podem parecer estacionários devido a uma peculiaridade associada à rotação terrestre e ao movimento de translação.

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Isso significa que eles não são detectados com antecedência pela rede de telescópios destinados a procurar tais ameaças.

Segundo o jornal britânico The Telegraph, a pesquisa começou após a comunidade astronômica ter ficado preocupada quando o asteroide 2019 OK passou raspando pela Terra em julho de 2019. Com aproximadamente 100 m de diâmetro, a rocha espacial passou pelo nosso planeta a apenas 70.000 km de distância. E ainda pior, só foi detectada 24 horas antes.

O periódico britânico lembra que o Congresso dos EUA deu à Nasa a tarefa de identificar 90% dos asteroides de 140 m de diâmetro ou mais, tamanho que poderia causar devastação numa grande cidade ou pequeno estado.

O novo estudo coincide com o tema retratado pelo filme Não Olhe para Cima (Don’t Look Up), recém-lançado pela plataforma Netflix, que apresenta Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence como cientistas tentando alertar o público, nada receptivo, sobre um cometa que está em rota de colisão com a Terra.

Citado pelo The Telegraph, o pesquisador Richard Wainscoat, da Universidade do Havaí (EUA), que liderou o estudo, diz que as pessoas “não devem perder o sono” devido à possibilidade de serem atingidas por um asteroide devastador. “No caso de encontrarmos algo que vai atingir a Terra, faremos algo a respeito. Não é uma questão de encontrar e ficar sentado esperando bater”, comenta o cientista.

Os algoritmos (códigos de programação) que controlam os telescópios de observação à procura de asteroides são programados para sinalizar objetos em movimento, para evitar identificar erroneamente fenômenos como as supernovas (explosão de uma estrela).

Isso leva em conta o fato de que os objetos que se aproximam da Terra parecem se deslocar para o oeste no céu por causa da rotação da Terra, que é no sentido leste em relação a seu eixo, explica o jornal britânico.

No entanto, quando os asteroides se aproximam da Terra a partir do lado oriental, a rotação do planeta e sua órbita curva ao redor do Sol podem fazer os objetos parecerem estacionários, de acordo com os cientistas.

O estudo afirma que 50% dos objetos espaciais perigosos que se aproximam da Terra a partir do leste podem passar por períodos de “câmera lenta” e, assim, dificultar a detecção precoce.

Não fosse esse fenômeno, asteroides do tamanho do 2019 OK seriam detectáveis até quatro semanas antes do suposto impacto.