A queda sistemática dos juros que ocorreu desde 2017 não estimulou apenas os investimentos em ações e em fundos imobiliários, mas também levou muitos aplicadores a buscar alternativas mais rentáveis. Entre as opções que acenam com maiores ganhos para o investidor despontam os Certificados de Operações Estruturadas (COE), produtos financeiros que se popularizaram nos últimos anos. São investimentos sofisticados. Tiveram origem nas notas estruturadas, desenvolvidas nas tesourarias dos bancos. Mesclam aplicações de renda fixa e variável, e misturam ativos como títulos públicos com derivativos, como contratos futuros e opções de compra e de venda. Toda essa complicação existe porque quem investe em um COE está, basicamente, fazendo uma aposta em um cenário futuro. Por exemplo: de alta de 10% no Ibovespa ou de queda de 5% no dólar. Um COE permite fazer essa aposta sem colocar o capital em risco. Se o cenário se concretiza, o investidor ganha. Caso contrário, ele recebe de volta o capital que investiu, mas sem juros nem correção monetária.

A sofisticação torna o COE menos compreensível para os investidores inexperientes do que outras aplicações, mais populares. Essa e outras características têm levado especialistas a ver o investimento em COE com restrições. Uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas divulgada em outubro analisou esse mercado. Eles concluíram que boa parte dos investidores que optaram pelos certificados dificilmente ficaram satisfeitos. Segundo a pesquisa, que analisou 284 COEs diferentes, vendidos a investidores de varejo entre 2014 e 2019, nada menos que 234 deles, ou 89%, apresentaram um retorno inferior ao que poderia ter sido obtido com uma aplicação no Tesouro Direto, muito mais simples, líquida e segura.

Segundo o professor da Escola de Economia da FGV Fernando Chague, que foi um dos coordenadores da pesquisa, o problema do COE é que ele é vendido como ativo seguro, destinado a investidores conservadores que se sentem atraídos pela Bolsa, mas são avessos ao risco. Sua principal crítica é a opacidade. Informações como os riscos e a probabilidade de ocorrência de cada um dos cenários não estão disponíveis. O investidor toma conhecimento dos cenários estimados para os preços dos ativos financeiros. “Mas quem vende em geral não apresenta as probabilidades de esses cenários ocorrerem, e se eles não se concretizarem, o investidor recebe o dinheiro de volta sem correção alguma”, disse o professor. “O levantamento mostrou que mesmo no caso dos poucos COEs que renderam mais que os títulos públicos, a diferença foi tão pequena que não vale a ansiedade da espera.”

SEM GARANTIA Há outros problemas. Ao aplicar em títulos públicos, o investidor tem a solvência do Tesouro Nacional. Quando se aplica em papéis de bancos, como os Certificados de Depósito Bancário (CDB), existe a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Já os COEs não têm nenhuma dessas proteções e, diferentemente dos fundos imobiliários, não são isentos de Imposto de Renda.

Segundo o gerente da plataforma de distribuição de investimentos Warren, Bruno Panerai, uma das explicações para a competitividade baixa dos COE é o fato de eles serem, estruturalmente, menos eficientes do que outros investimentos. “Por que o COE é ineficiente? É ineficiente porque tem uma estrutura cara”, disse. Panerai também levanta a hipótese de o investidor ter sua decisão influenciada pela maneira como os COE são vendidos. “Há toda uma questão psicológica, pois quando uma pessoa está de frente com um especialista, ela se sente inclinada a acreditar na oferta que está recebendo”, afirmou.