Na visão de José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e sócio da MB Associados, o cenário que levou o PIB do País a cair 3,6% no ano passado parece ter ficado no retrovisor – além de demonstrar o fracasso da política econômica anterior -, mas a estrada até a recuperação será longa. A seguir, trechos da entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

Que herança ficou de 2016?

Uma queda do PIB per capita como a que vimos desde 2014 só ocorre em países em guerra. Os problemas resultantes da chamada nova matriz econômica ajudaram a consolidar uma retração forte do investimento. Isso nos leva aos principais desafios atuais, que são reduzir o desemprego e retomar, ao menos um pouco, os investimentos. A agricultura enfrentou um clima muito ruim, também por isso todos os setores sofreram.

Os investimentos devem voltar já neste ano?

Sim. Os investimentos hoje estão no fundo do poço, por isso não precisa de muito para ter uma retomada, mas isso já está acontecendo. Há uma melhora inequívoca nos aportes no setor de petróleo, e nem falo de leilões, mas de gastos da Petrobrás, da Shell, da Total. As empresas que estão desenvolvendo campos aumentaram os orçamentos para este ano, e nem é preciso dizer o quanto o petróleo é um segmento de grande expressividade e peso. Também devemos ter dados positivos nas áreas de transmissão de energia e equipamentos e material de transporte, além um possível avanço no setor de saneamento. Só sou mais pessimista na área de logística, que pode não ter destaques significativos. Mas podemos ter uma participação maior de estrangeiros e dos aportes feitos por empresas de fora que já estão instaladas no Brasil.

Quais as expectativas para o PIB de 2017? E o de 2018?

Hoje, há uma perspectiva de o País crescer 1% em 2017 e 2,6% no ano que vem, ajudado pelo controle da inflação. Só que isso precisa ser relativizado, sair do buraco não é voltar a crescer de forma sustentada. Se o PIB deste ano é um olhar pelo retrovisor, também é preciso lembrar que ainda temos uma estrada longa pela frente. Sabe-se que a consolidação dessa melhora da economia vai depender de um avanço das reformas em pauta, especialmente a da Previdência.

O que puxará o crescimento?

A agricultura, sem dúvida. No ano passado, a produção caiu, mas não a área cultivada. O potencial produtivo não parou de aumentar. A safra de grãos deve crescer, o que vai se refletir positivamente em outros setores. Na indústria química, o segmento em melhor situação é o de defensivos e fertilizantes; na de veículos, o de tratores tem potencial. A exportação vai crescer e os preços das commodities deverão estar melhores também. A injeção de recursos com o saque das contas inativas de FGTS também deve ajudar. Não vai ser “nenhuma Brastemp”, mas alivia. Estima-se recursos em torno de R$ 40 bilhões, e a maior parte será sacada, até pela grande divulgação que tem sido feita pela mídia. Ainda não se sabe o quanto disso será reaplicado, irá para pagar dívidas ou consumo, mas terá efeito positivo.

Que fatores poderiam dificultar a consolidação da volta do crescimento do País?

O fator incerteza. O cenário atual nos faz prever um crescimento neste ano e no próximo, mas no caminho o País vai enfrentar uma sucessão presidencial, ainda totalmente incerta. Olhando agora, não se consegue construir qualquer cenário que seja. A torcida é para que o governo que virá leve minimamente a pauta reformista adiante. O que foi feito até agora é só o primeiro passo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.