Quando o executivo Michael Capellas decidiu correr a meia maratona de Houston, no Texas (EUA), ninguém botou muita fé. Com uma determinação de quem é movido a grandes desafios, começou a treinar diariamente. Vinte quilos a menos e uma medalha na mão, Capellas, 47 anos, está surpreendendo não apenas os colegas, mas o mercado. Em 1999, quando assumiu a presidência mundial da Compaq, a empresa acumulava um prejuízo de US$ 500 milhões em um ano apenas na divisão de computadores comerciais. Com uma dieta de redução de custos e uma ginástica estratégica que mudou o foco dos negócios e deu maior agilidade à companhia, o executivo conseguiu aumentar em 10% o faturamento da companhia em 2000, atingindo a marca dos US$ 42,4 bilhões. O lucro operacional líquido triplicou em relação ao ano anterior, chegando a US$ 1,7 bilhão. Por essas razões, o recente anúncio da perda de liderança ? mantida desde 1994 ? para a Dell Computers no ranking dos maiores fabricantes de computador pessoal (PC) do mundo não causou maiores abalos na sede da empresa, no Texas. ?Nosso portfólio está mudando, isso ia acabar acontecendo?, disse Capellas a DINHEIRO, durante visita ao Brasil na semana passada (veja entrevista ao lado). ?Estamos mais interessados em reinventar o PC do futuro e oferecer mais serviços do que em preservar, a qualquer custo, um modelo de negócio tradicional.?

O futuro, segundo Capellas, será móvel e totalmente voltado para a Internet. Um exemplo do que está por vir já está nas lojas. É o Pocket PC, um palm que permite enviar e-mail e baixar música da Web. Tudo sem fio. Lançado em janeiro, o produto tem superado as expectativas e hoje representa 11% da produção da Compaq. No mês passado, foram vendidas 125 mil unidades, contra a previsão inicial de 8 mil mensais.

Mas o papel da Compaq nesse mundo novo não será de oferecer apenas máquinas e equipamentos de uso pessoal. Hoje, esse segmento representa 42% do faturamento da empresa. O restante vem do que a companhia chama de infra-estrutura (servidores corporativos e de Internet), com 37%, e também de serviços e soluções tecnológicas, principalmente nas áreas financeiras e de telecomunicações (21%). ?A meta para os próximos três anos é que cada um desses setores contribuam com partes iguais do faturamento?. Ou seja, ninguém se espante se a posição no ranking dos fabricantes cair ainda mais. Está tudo planejado.

O crescimento da área de serviços tem sido expressivo. A Compaq é a segunda maior empresa de armazenamento de dados do mundo, área que já representa um sétimo de suas receitas. Difícil encontrar alguém minimamente familiarizado com as novas tecnologias que não tenha usado, ainda que involuntariamente, serviços ou máquinas Compaq. Seja para declarar o imposto de renda on-line (os servidores que alimentam o ReceitaNet são da marca Compaq), para pagar uma conta de celular (a empresa administra o sistema de cobrança, localização e roaming da Telesp e da Telefonica Celular) ou mesmo para acessar sites como Yahoo! e MSN da Microsoft (cujas infra-estruturas são geridas pela Compaq).

A passagem de Capellas pelo País teve um motivo: cumprimentar o chefão da companhia no Brasil, Emilio Umeoka, por uma das maiores taxas de crescimento registradas por uma subsidiária da empresa ao redor do mundo: 63%. O Brasil é a 12ª subsidiária em faturamento e, segundo Capellas, até o fim do ano deverá alcançar a décima posição.

A calvície acentuada e o cansaço de uma agenda apertada, típica de quem preside uma das cem maiores empresas do mundo, com filiais em 200 países, escondem um lado roqueiro e muito acessível. A falta de tempo não lhe permite mais tocar guitarra. Mas entre uma reunião e outra, Capellas não dispensa o MP3 para ouvir um bom rock?n roll.

?VAMOS COMANDAR A PRÓXIMA ONDA?

O futuro chegou: Sem fio e com acesso à Internet, o Pocket PC vendeu 125 mil unidades no mês passado. Previsão inicial era de 8 mil unidades mensais

Como foi perder a liderança mundial em PCs?
Estamos mudando o portfólio da empresa e isso ia acabar acontecendo. Estou certo de que podemos agregar valor e inovar em produtos e serviços e nos transformar em líder da próxima geração.

Como serão os computadores do futuro?
O segmento móvel e sem fio vai crescer muito e a nova geração de PCs será centrada na Internet. Os aparelhos serão muito mais elaborados e permitirão acessar a rede ou a Internet de qualquer lugar.

A empresa voltará a crescer como no passado?
Quando você fatura US$ 42 bilhões e é líder ou vice-líder em todos os mercados em que atua, um crescimento de 45% é irreal. Mas não há dúvida de que logo iremos exibir um crescimento sólido de dois dígitos.

Demorou para a Compaq entrar na onda da Internet. Como a empresa está recuperando o atraso?
Tivemos progressos. Além de ser o número um em servidores de Internet, as empresas de maior prestígio da Internet funcionam com sistemas e soluções Compaq: Yahoo!, AOL, o site da Disn
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