O maior negócio da área de seguros do Brasil foi feito de estatal para estatal. Trata-se da venda do controle da Caixa Seguros, a seguradora da CEF, para a estatal francesa CNP Assurances, controlada pela Caisse des Depots et Consignations, uma equivalente francesa da própria CEF. A CNP pagou R$ 1,065 bilhão por 50,75% do capital total da Caixa Seguros, preço 2,5 vezes maior que o mínimo, fixado em R$ 421 milhões. Tanto dinheiro foi para a seguradora conquistar um parceiro no Brasil exatamente igual ao que vende seus produtos na França. ?O principal atrativo da Caixa Seguros é a sua rede de distribuição?, diz Bernard Cheveau, diretor de desenvolvimento internacional da CNP. Apólices de vida, saúde e planos de previdência privada serão distribuídos por meio dos 1,9 mil pontos de atendimento do banco estatal, entre agências e postos de atendimento. E a rede de vendas tende a crescer. A Caixa Seguros já estudava antes do leilão a venda de apólices por meio das 8,5 mil casas lotéricas franqueadas. ?Poderíamos oferecer seguros de vida e de acidentes pessoais?, disse Fernando Carneiro, diretor da CEF. O banco estatal continua sócio da seguradora. A parte vendida pertencia à Funcef, o fundo de previdência dos funcionários da instituição.

Apesar do tamanho do lance vencedor, o negócio não chegou a ser dos mais disputados. Das 30 empresas para as quais a seguradora foi oferecida, apenas quatro chegaram à reta final. Dessas, a Icatu Hartford pulou fora e não deu lance. Sobraram a americana AIG e as francesas AGF e CNP. Uma delas deu lance apenas para constar, inferior ao mínimo, o que reduziu a disputa apenas à CNP e mais uma. Cheveau, da CNP, nem teve tempo de abrir um bom champanhe francês para comemorar. Logo após o anúncio ele correu para o aeroporto e pegou o vôo das 19 horas em direção a Londres, onde se encontraria com os principais executivos do HSBC, banco que assessorou a CNP na operação. Horas antes, o Tribunal Regional Federal concedera mandado de segurança ao Sindicato dos Bancários de São Paulo suspendendo a venda da participação da Funcef na Caixa Seguros, mas nem a CEF nem a CNP pareceram se preocupar. ?A venda foi fechada muito antes de o mandado ter sido concedido, por isso ele não tem validade?, disse Fernando Coelho, advogado que assessorou a venda da Caixa Seguros.