A mudança climática concentrou, nesta quinta-feira (24), a atenção dos líderes mundiais no Fórum Econômico de Davos, onde a situação da Venezuela voltou a ser objeto de reuniões à margem da agenda oficial.

“Estamos perdendo a corrida” contra a mudança climática pela falta de “vontade política”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, em uma entrevista divulgada pelo Facebook coincidindo com o Fórum Econômico Mundial (WEF).

“A evolução é pior que o previsto”, portanto é “absolutamente indispensável inverter a tendência”, declarou em uma mensagem aos 3.000 responsáveis políticos e econômicos reunidos esta semana em Davos.

Na ausência de grandes líderes como Donald Trump, Emmanuel Macron e Xi Jinping, estrelas do ano passado, o fórum teve menos conteúdo político desta vez, com a presença de cientistas como a primatóloga Jane Goodall, o ex-vice-presidente americano Al Gore, conhecido por sua luta contra a mudança climática, e o naturalista David Attenborough.

“Estamos indo em direção a um aumento das temperaturas de quatro graus centígrados neste século, e a indiferença passiva com que a maioria dos países aceitam isso parece um pacto suicida”, disse o ex-secretário de Estado americano John Kerry em uma entrevista à CNBC.

O acordo de Paris sobre o clima de 2015, debilitado pela retirada dos Estados Unidos e pela possibilidade de que o Brasil também saia, tem o objetivo de limitar abaixo de 2% o aumento das temperaturas em relação aos níveis pré-industriais.

Mas segundo Guterres, isso “é insuficiente”.

“Os países têm que assumir compromissos mais ambiciosos”, disse o responsável da ONU, que lamentou a “ausência de vontade política”.

Após sua intervenção, a diretora executiva do Greenpeace disse que é necessário agir.

“A questão é se as companhias e os países estarão à altura do desafio e começarão a trabalhar para resolver um dos maiores riscos para a economia global e para o planeta em seu conjunto”, disse em uma declaração à AFP.

A questão está em todos os debates, sobretudo o impacto econômico da mudança climática, que é a principal preocupação dos participantes, segundo uma pesquisa publicada na semana passada.

– Energias renováveis –

Nos corredores do centro de congressos do fórum, vários empresários dizem ter consciência da urgência do problema e afirmam estar dispostos a mudar.

“Não nos interessamos pelas energias renováveis para ser ambientalistas. Nos interessamos por elas porque são a melhor maneira de entrar no mercado da eletricidade”, um mercado de futuro, disse o presidente da Total, Patrick Pouyanné, em uma entrevista à CNBC.

Greta Thunberg, uma adolescente sueca de 16 anos, veio a Davos em sua cruzada contra a mudança climática com a esperança de fazer a elite política e econômica mundial reagir.

Em agosto a adolescente lançou uma “greve de escola pelo clima” que a leva a se manifestar todas as sextas-feiras em frente ao parlamento sueco.

“Eles têm que fazer algo, se irritar e transformar essa irritação em ação”, diz Thunberg, que decidiu nunca mais andar de avião, poluente demais, e por isso levou 32 horas para ir de Estocolmo a Davos.

Uma atitude que contrasta com os helicópteros e jatos privados que muitos dos participantes usam para chegar à estação de esqui suíça.

– Reuniões sobre a Venezuela –

A situação na Venezuela, onde na quarta-feira o líder do Parlamento, o opositor Juan Guaidó, se autoproclamou presidente interino do país, foi objeto de vários encontros informais.

O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, se reuniu nesta quinta-feira em Davos com os presidentes da Colômbia, Equador e Costa Rica para expor a posição europeia sobre a questão.

Depois falou por telefone com Guaidó “por iniciativa sua”, segundo o governo espanhol, e lhe passou “seu reconhecimento pela coragem com que ele está se comportando nesta situação”.

A Espanha decidiu, por enquanto, não reconhecer Guaidó como presidente, à espera de buscar uma posição comum com seus sócios da União Europeia.