O banco passou por um grande processo de ajustes. O senhor diz que sua meta, agora, é equiparar a rentabilidade do Banco do Brasil (BB) a dos seus concorrentes privados. Como fazer isso?
O BB é uma empresa de capital aberto e tem competidores. Então, é natural que os analistas e os acionistas comparem nosso desempenho com o dos demais bancos no País. Por isso, nossa premissa básica, desde o início de nossa gestão, foi que o BB atingisse patamares de rentabilidade próximos ou iguais aos de seus pares. Esse foi, e continua sendo, o nosso grande desafio. Tivemos um resultado muito bom e me perguntaram se eu estava satisfeito com a rentabilidade. Disse que estou feliz, mas não estou satisfeito. Esse é apenas o primeiro passo. Estamos no caminho, mas isso não significa que vamos nos acomodar com esse resultado. Ao contrário. Mostrou-se que o caminho está correto e que, em breve, vamos atingir patamares adequados aos dos nossos pares.

O senhor tem um prazo? Qual é essa rentabilidade?
Isso vai depender do que vai acontecer daqui para frente. Nós estamos em um momento de estabilidade econômica e vamos caminhar para uma estabilidade maior ainda. É difícil definir qual o retorno desejado. Os spreads vão cair no futuro e isso vai reduzir a rentabilidade patrimonial de todos os bancos. Há mais um ponto. Nossos concorrentes, hoje, têm sua carteira de crédito com spreads superiores ao nosso, pois a nossa carteira ainda está carregando uma série de operações do passado que têm taxas de juros muito baixas.

Quais, por exemplo?
A do PSI (Programa de Sustentação do Investimento, que financiava investimento em bens de capital), que paga 2,5% ao ano, e a do cartão BNDES. Uma hora isso vai acabar. Nossa carteira vai ficar igual à dos bancos privados e eles não terão mais essa diferença de rentabilidade conosco.

Quanto isso influencia?
Sem o peso dessa carteira, nossa rentabilidade, que hoje está em 12,5% ao ano, deve chegar a 14,5% ao ano, sem um prazo definido. Esse é o caminho que estamos seguindo. Há outra coisa. A rentabilidade é medida dividindo-se o lucro pelo patrimônio líquido. Estamos aumentando nosso patrimônio e quanto maior o capital, maior o denominador da fração, e menor a rentabilidade.

O BB está querendo reduzir o peso do governo em seus negócios?
Muito ao contrário. Os bancos privados atuam em coisas específicas de governo. E nós vamos muito além disso. Reduzimos operações específicas. O cartão BNDES teve uma inadimplência elevada, nós perdemos 20% do que emprestamos. Em 2016, passamos a ser muito mais restritivos em relação a isso. O BB é o grande líder no desembolso de linhas do BNDES. Nós nunca fomos tão parceiros do governo, e nunca fomos tão bem remunerados como agora. Temos rentabilidade mínima, não fazemos operação para perder dinheiro. Se estudarmos a operação e não der retorno, não fazemos.

Como assim?
Não vamos fazer só financiamento de bens de capital, onde a taxa é mais baixa. Vamos mudar o mix. Alguns clientes financiavam bens de capital conosco e faziam as demais operações com os outros bancos. Por que ele fazia só a menos rentável conosco e as melhores com a concorrência? Ele que vá fazer com o outro.

Como mudar isso?
Mudamos o foco e a estratégia de atuação. Antes o foco estava nas linhas de bens de capital e vamos continuar operando. A economia apresentou um sinal positivo, o empresário pensa em investir em equipamentos, comprar maquinário. Agora, temos um atendimento muito mais focado e especializado. Montamos agências e escritórios específicos para pequenas e médias empresas, treinamos um time, revisitamos os produtos, queremos trazer esse fluxo de caixa de volta para o banco, para tornar as operações de crédito muito mais sustentáveis.

O Banco do Brasil tem indicado que pretende trocar crédito para grandes empresas por operações de mercado de capitais. Por quê?
Empréstimos para empresas grandes consomem muito. Podemos dedicar esse limite para empréstimos às pessoas físicas e às micro-empresas, com margem maior. No nosso caso, queremos assessorar melhor o segmento de atacado, que tem condições de fazer operações estruturadas, que são melhores para elas. Com a crise, os limites de crédito encolheram. Ao levantar recursos pelo mercado de capitais, podemos ganhar mais com tarifas sem consumir nossos limites de Basileia.

Quanto desse movimento foi provocado por queda de juros e quanto por más experiências passadas?
O banco sempre teve uma postura muito conservadora e temos uma metodologia de crédito sólida. Prova disso é que nossa inadimplência total sempre esteve abaixo da média do mercado. Não vamos parar de operar com as grandes empresas, que vão continuar a ser avaliadas pelo seu risco. Devido aos fatos recentes, que todos conhecemos, algumas empresas tiveram seus riscos agravados. Mas não posso tratar uma empresa que nunca teve problemas da mesma forma que uma companhia que esteve envolvida nesses acontecimentos recentes. Não posso ser mais conservador para todas, igualmente. O mercado agravou o risco de algumas empresas, a taxa vai ser mais alta, o limite será menor, mas temos de analisar as empresas caso a caso. Isso vale tanto para o crédito, quanto para o mercado de capitais. Lembre-se que crédito tem várias “letras c”. Uma delas refere-se à capacidade de pagamento. Outra se refere ao caráter.

E a internacionalização?
Gostaria que o BB fosse um banco internacionalizado, como é o Santander. Neste momento, nosso foco é o Brasil. É adequar o capital do BB para adequar as demandas. Agências fora do País apóiam nossos clientes lá fora. No futuro, quando tivemos uma condição mais folgada de capital, nada impede de que o BB pense em ampliar suas operações no exterior, sendo um grande banco internacional.

Fala-se da abertura de capital da empresa de cartões, a exemplo do que ocorreu com a BB Seguridade. Esses planos vão avançar?
Temos evitado qualquer operação que implique na venda de core business. O resultado vai depender mais de serviços. Então, se eu vender uma parte do negócio hoje, vou deixar de receber lá na frente. A venda da BB Seguridade trouxe um bom dinheiro, mas reduziu nossa fatia das receitas. Por isso, na minha opinião, os bancos devem evitar vender suas atividades principais, ou limitar as vendas a fatias mínimas, que não estanquem a geração de resultado futuros. Eu poderia abrir o capital da empresa de cartões, do banco de investimentos ou da gestora de fundos. O lucro do ano ia ser maior do que o Itaú, mas seria a pior coisa que eu poderia fazer para a nossa empresa. Lá na frente, a receita vai fazer falta. Aqui, temos um acordo de não olhar para o que já foi vendido. Mas eu não descarto a possibilidade, no futuro, de recomprarmos parte do capital da BB Seguridade, quando tivermos capital para isso.