Os presidentes dos países do Mercosul se reúnem nesta terça-feira (18), em Montevidéu, sem grandes chances de tomar decisões, à espera da posse de Jair Bolsonaro – que anunciou a possibilidade de se retirar do bloco.

O Brasil, o maior país do grupo formado ainda por Argentina, Paraguai e Uruguai, troca de presidente em 1º de janeiro, e o Mercosul está na mira do novo mandatário.

Embora o atual chanceler brasileiro Aloysio Nunes tenha dito nesta segunda em Montevidéu que o bloco é “uma prioridade” para o Brasil, Bolsonaro deu claros sinais de que revisará os acordos do Mercosul e ameaça se retirar do bloco se não houver mudanças que beneficiem o setor produtivo brasileiro – o que foi endossado por sua futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

– Ameaça e oportunidade –

O ministro uruguaio de Relações Exteriores, Rodolfo Nin Novoa, manifestou nesta segunda em coletiva de imprensa que seu país vê a postura brasileira como uma “oportunidade” de melhorar o Mercosul.

“Todos estamos disposto a nos sentar e ver como o Mercosul funciona”.

A proposta brasileira sobre a necessidade de revisar o atual acordo, assinado em 1991, é “uma oportunidade. É necessário sentar para discutir uma melhoria e um aperfeiçoamento” do bloco regional, concordou.

Os analistas consideram que este é o momento de apostar em maior liberdade dos sócios, pois atualmente a estrutura do acordo não permite que os membros do Mercosul negociem tratados comerciais sem a anuência dos demais.

Para o diretor do Departamento de Negócios Internacionais e Integração da Universidade Católica do Uruguai, Ignacio Bartesaghi, a postura do Brasil abre deve ser aproveitada para modernizar a atual união aduaneira.

“O bloco continua estagnado em normas de comércio, não estamos mais integrados que há dez anos”, afirmou.

Por isso, a conjuntura brasileira representa uma “grande oportunidade” para o Mercosul. “A ameaça de o Brasil sair do Mercosul não é factível”, mas pode levar o bloco a “uma ideia inicial que (o presidente argentino Mauricio) Macri tinha de modernizá-lo”, explicou à AFP.

O cenário poderia ser o de um Brasil mais fechado “e os demais sócios mais livres” para negociar acordos por conta próprio – algo demandando pelo Uruguai, por exemplo, segundo Bartesaghi.

“A expectativa real será quando o (novo) governo do Brasil assumir e se perguntar o que vai fazer em matéria de abertura comercial”, resumiu à AFP o economista uruguaio Ignacio Munyo, coordenador do centro de pesquisas da Escola de Negócios da privada Universidade de Montevidéu.

“O Brasil realmente precisa se abrir comercialmente e será bem-vindo. O objetivo geral do Mercosul deveria ser convergir para um acordo de livre-comércio entre os países”, concluiu.

– Acordo com a UE mais distante –

O bloco do Mercosul também não conseguiu avançar em questões cruciais, como o acordo comercial que negoacia há 20 anos com a União Europeia (UE). A chegada de Bolsonaro ao poder também acabou semeando dúvidas sobre essas negociações.

Durante o recente G20 em Buenos Aires, o presidente francês Emmanuel Macron disse que esse pacto ainda está longe de ser concluído, em uma entrevista ao jornal argentino La Nación.

“A França é favorável a um acordo comercial de benefício mútuo entre a UE e o Mercosul. Temos, como na Argentina, sensibilidade agrícola, especialmente no setor bovino francês. Tivemos avanços em muitos temas nos últimos meses, mas ainda não estamos em uma situação de concluir” um acordo, explicou o mandatário.

A comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström, insinuou que as tratativas precisam de um “impulso final”.

Mas Macron relativizou essa visão ao citar a chegada de Bolsonaro à Presidência.

“A França mantém uma importante aliança estratégica com o Brasil, e desejo que esta continue assim, no âmbito dos valores democráticos. Esta nova realidade política no Brasil suscita fortes preocupações. É provável que tenha repercussões sobre as discussões comerciais entre o Mercosul e a UE”, afirmou o presidente francês.