Em seu depoimento na Câmara dos Deputados na quarta-feira (2) e no Senado na quinta-feira (3), Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, fez algo incomum para alguém que ocupa seu cargo. Ele disse claramente o que vai fazer. Powell praticamente garantiu que os juros nos Estados Unidos vão subir 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Federal Open Market Committee (Fomc), equivalente americano do Copom, marcada para os dias 15 e 16 de março. Sua mensagem foi clara: para o Fed, a inflação é uma ameaça maior à economia dos Estados Unidos do que a eventual desaceleração das atividades que pode decorrer a partir da da invasão russa à Ucrânia.

Há vários sinais para sua preocupação. Mais cedo na quarta-feira, antes do início de seu depoimento, um dos indicadores mais importantes da temperatura de uma economia mostrou que os Estados Unidos estão quase em um estado febril. A empresa de processamento de dados ADP divulgou a contratação de 475 mil pessoas em fevereiro pelas empresas privadas americanas, muito acima da expectativa, que era de 388 mil contratações.

Mais do que isso, a companhia revisou os dados referentes a janeiro. A informação preliminar indicava 301 mil demissões. A informação revisada foi de 509 mil contratações. Não apenas uma reversão de 810 mil pessoas, um pesadelo estatístico. Mas também a constatação de que os Estados Unidos abriram, em termos líquidos, 984 mil vagas nos dois primeiros meses do ano, o que mostra uma economia operando a plena carga.

984 mil Foi o número de vagas abertas nos EUA em janeiro e fevereiro

No entanto, a invasão russa à Ucrânia provocou um aumento da incerteza. O movimento das tropas fez as cotações do petróleo e dos grãos subirem aos níveis mais elevados em dez anos, o que pressiona a inflação global. Como o Fed vai lidar com esse risco adicional de que os preços americanos sigam subindo sem controle é o que os investidores globais mais querem ver.

A aposta de vários trilhões de dólares é se o Fed será capaz de domar a inflação – que está nos níveis mais elevados desde 1982 – sem desarticular a recuperação da economia. Juros mais altos desestimulam o consumo e os investimentos, e a consequência é uma queda do emprego. Questionado pelos deputados, Powell disse que o mais provável é um pouso suave da atividade econômica, ou seja, controlar a inflação sem provocar recessão. “Eles são muito mais comuns em nossa história do parecem”, afirmou.