Um estádio de beisebol batizado com nome do lendário Jackie Robinson, primeiro jogador negro das grandes ligas e líder pelos direitos civis, foi utilizado como “prisão” pelas autoridades de Los Angeles para os detidos nos protestos contra o racismo.

A Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) informou que o uso desse espaço esportivo pela polícia foi feito “sem conhecimento ou permissão” da instituição, que o administra.

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“A UCLA não recebeu um pedido da polícia de Los Angeles ou de qualquer outra instituição da cidade para transformar esse espaço em uma ‘prisão temporária’ para fichar os detidos”, declarou a universidade em nota à AFP nesta quarta-feira (3).

“A polícia de Los Angeles desocupou a propriedade e informamos que um futuro uso do local como centro de detenção não será permitido pela UCLA”.

O chefe da polícia de Los Angeles, Michel Moore, afirmou na terça que 2.700 pessoas tinham sido presas desde que os protestos começaram na última semana.

A maioria das prisões foi por violação do toque de recolher imposto desde o final de semana e 10% por saques. Não está claro onde, no estádio, os detentos foram contratados, quantos foram ou quanto tempo duraram as prisões.

O DPLA ainda não respondeu ao pedido da AFP para comentar o assunto.

“Os estudantes da UCLA foram presos por utilizarem o direito constitucional de protestarem pacificamente contra a injustiça racial, onipresente na polícia dos EUA”, declarou um grupo de professores universitários em uma carta de protesto ao uso dessas instalações.

“Eles foram detidos e mantidos em um estádio em seu próprio campus chamado Jackie Robinson, um ícone da longa e inacabada luta pela liberdade dos negros”, acrescentou a carta.

Neto de um escravo, Robinson (1919-1972) estreou no Brooklyn Dodgers em 1947, rompendo a barreira que por mais de meio século excluía os jogadores negros da principal liga de beisebol.

O estádio é de propriedade do Departamento de Veteranos (federal), mas é alugado para a universidade.

Os professores da UCLA também denunciaram que a polícia não fez uso das medidas corretas de segurança devido à pandemia do novo coronavírus, aglomerando os detidos em um ônibus para fichá-los no estádio.

Segundo a carta, os policiais não usavam máscaras ou respeitavam o distanciamento social.

“A ironia cruel é que isso aconteceu em uma instalação usada para testar casos da COVID-19”, informou a universidade.