O manifesto divulgado por associações da construção civil endereçado aos presidenciáveis causou desconforto entre apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL). Para Sebastião Bomfim, dono da rede de artigos esportivos Centauro e um dos primeiros empresários a declarar voto no deputado, o texto, que traz reivindicações como “defesa firme da democracia”, é eleitoreiro e vem de setor que deu sustentação aos governos do PT. “Em defesa da democracia todos somos. Está implícito”, disse. “Mas quem tenta explorar o discurso de frente democrática neste momento é o PT”, afirmou Bomfim, que procurou a reportagem para expor a insatisfação.

Por que se opor ao manifesto?

Um manifesto publicado dessa forma a poucos dias do segundo turno me parece ter intuito político e eleitoral. O tal pacto pela democracia é uma ideia que o PT quis construir. Quem assina o manifesto é uma turma que diz querer preservar a Constituição, mas que faz parte de um setor que foi muito exposto pela Lava Jato e que adorava comprar lei ordinária. E agora querem se colocar como arautos da democracia? Essa elite empresarial nunca foi omissa, ela sempre foi é conivente. Quem fala em compra de lei ordinária não sou eu, é o ex-ministro Antonio Palocci, que fez delação premiada. Trata-se de um manifesto completamente despropositado.

O manifesto não fala em apoio a Fernando Haddad.

E precisa? Quem está construindo a narrativa de defesa da democracia é o PT. Claro que todo mundo apoia a democracia. É obrigação. Eu não apoio? Isso está implícito para todos. O que me deixa consternado é que o manifesto vem de setor que atuou muito próximos aos governos do PT. Lideranças desse setor chegaram a fazer parte de horário político do PT. É absolutamente hipócrita e altamente eleitoreiro.

Vimos associações apoiarem Jair Bolsonaro. Foi errado?

Não advogo para que apoiem A ou B. Mas essa elite é que deu sustentação ao PT o tempo inteiro e se beneficiou com política dos campeões nacionais, por meio de legislação, por meios de acessos (ao governo), pelo desenvolvimento extraordinário dentro do Minha Casa Minha Vida. Bolsonaro me pediu para gastar sola de sapato em sua campanha, mas essa turma aí tem a canela inchada de tanto andar nos corredores do Congresso. Estão agora perplexos porque vão lidar com um Congresso renovado, ao qual não estão acostumados. Minha repulsa é de ver um setor que é foco principal da Lava Jato vir agora se arvorar em defesa da democracia.

Mas assinam o manifesto associações variadas, de empresas que não estão na Lava Jato.

Quero deixar claro que conheço excelentes empresários da construção, que tiveram dificuldades enormes com rescisão de contrato e outros problemas nos governos do PT. Mas, de forma geral, me revoltou profundamente. Uma velha elite empresarial acostumada a benesses de legislação vir agora falar em defesa da democracia e da Constituição.

Não o preocupa declarações como a de Eduardo Bolsonaro sobre o fechamento do STF?

Ele errou redondamente, mas falou numa hipótese. É preciso ver o contexto. De qualquer forma, qualquer deputado que queira agredir qualquer instituição tem de ser recriminado. Não importa o partido ou sobrenome que tenha. Sou democrata convicto e absoluto.

Bolsonaro falou no último domingo que “marginais vermelhos” seriam “banidos de nossa Pátria” num governo. Como vê esse tipo de declaração?

Frases de efeito estão sendo ditas nas duas campanhas. Esse segundo turno é plebiscitário. Claro que, se alguém tiver de sair do País por uma questão de perseguição política, sou o primeiro a me opor – e saio eu mesmo do Brasil. Mas estou convicto de que não estamos diante de um risco à democracia. Fernando Haddad também falou que o vice de Bolsonaro é torturador. Esses excessos estão acontecendo dos dois lados. Mas é porque o clima de campanha esquentou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.