Nunca antes na história (recente) deste País a imprensa foi tão necessária. O período pré-eleitoral foi marcado por uma enxurrada de informações falsas ou manipuladas. Ninguém escapou das mensagens mentirosas. A maioria delas era repassada para aumentar a corrente a favor do seu candidato. Pouco importava a veracidade, era preciso diminuir o adversário. Tenho certeza que, como eu, você recebeu dezenas dessas “notícias” por dia no WhatsApp, via mensagens diretas ou grupos. No começo era mais fácil alertar para as fake news. Mas, com o tempo, essa tarefa se tornou cansativa e incômoda: quem disse que o interlocutor aceitava diálogo? Não importava o grau de instrução. Muitos trancaram o cérebro na gaveta do criado mudo. Um aviso para um bolsonarista era respondida com um carimbo de lulista. Se era para um petista, você era a favor dos militares e da ditadura.

Aliás, esse triste período do Brasil serve de exemplo para mostrar como as posições extremas predominam nestas eleições. Alguns são saudosistas e reduzem aquela tragédia, a ponto de o ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, trocar a palavra golpe por movimento de 1964. São pessoas que não estudaram História ou escolheram faltar com a verdade. Não houve milagre na ditadura militar, muito menos na economia. Apesar de os números mostrarem uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) na casa dos 10% durante os anos 1970, eles, analisados de forma isolada, são uma enganação. Para conseguir um crescimento chinês, os economistas dos ditadores, liderados por Delfim Netto, criaram um alto endividamento, conta que teve de ser paga na década seguinte (que ficou conhecida como perdida, por motivos óbvios). Além disso, no início do período do golpe, a inflação ficou sob controle com o arrocho salarial. Houve concentração de renda e os pobres ficaram mais pobres. A corrupção foi tão grande quanto essa que a Operação Lava Jato escancara aos nossos olhos. A principal diferença é que nos anos de chumbo não existia imprensa livre para denunciar e mostrar o que acontecia sob os tapetes dos quartéis.

Para jogar luz sobre as barbaridades distribuídas pelas redes sociais e nos grupos privados de mensagens neste ano eleitoral, a imprensa deslocou parte de seus profissionais para checar essas informações. A escolha tem um motivo científico. Estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), divulgado no início de 2018, mostrou que as notícias falsas sobre política se espalham três vezes mais rápido que uma real na internet. O trabalho dos americanos se concentrou em analisar o que aconteceu entre 2006 e 2016, nos EUA. E, ao contrário do que era esperado, os robôs não têm preferência pelo conteúdo e sim o usuário, que escolhe o que seu seguidor deve ler.

Mas, ao prestar esse importante serviço ao cidadão, o cobertor curto da imprensa deixou as propostas, que é o que realmente interessa em uma eleição, em segundo plano. Pouco se cobrou dos candidatos sobre seus programas de governo. Jair Bolsonaro (PSL), líder das pesquisas de intenção de voto até o fechamento deste artigo, sempre mostrou desconhecimento do seu conteúdo, quando era questionado. Está escrito, por exemplo, que ele vai aprimorar o Bolsa Família, mesmo sendo um crítico do projeto. Em agosto, Bolsonaro disse que isso seria “inacreditável”. Já Fernando Haddad (PT), outro que estava mais próximo de disputar o segundo turno, apresenta uma ideia vazia sobre a criação de empregos. Além de ser o óbvio para qualquer governo, ele esconde que os anos Dilma Rousseff fizeram o desemprego subir para, aproximadamente, 13% da população economicamente ativa.

O ódio foi quem chegou primeiro às urnas. O Brasil está igual ao que era há quatro anos: polarizado. Bolsonaro e Haddad, que estavam mais perto de governar o Brasil pelos próximos quatro anos, também são os primeiros nos indicadores de rejeição. O eleitor está votando com o fígado, contra o que não quer. Mas poucos sabem qual é o País que vai a nascer em 2019, após uma eleição marcada mais pelo fake do que pelo news.