Um partido ecologista de esquerda, contrário a um projeto de mineração muito polêmico, venceu as eleições legislativas de terça-feira na Groenlândia, um território autônomo dinamarquês.

O Inuit Ataqatigiit (IA), até agora o maior partido de oposição, recebeu 36,6% dos votos, 11% a mais que nas eleições de 2018, de acordo com os resultados definitivos.

“Obrigado à população, que acreditou em nosso partido para trabalhar colocando em um ponto central as questões humanas durante os próximos quatro anos”, declarou o líder do IA, Mute Egede, após o anúncio dos resultados.

O partido IA conseguiu uma vantagem de mais de 2.000 votos, entre 41.000 eleitores, em relação ao Siumut (29,4%), partido social-democrata que domina o cenário político do território desde a autonomia, decretada em 1979.

A vitória do IA significa o fim do projeto de mineração de terras raras e urânio de Kuannarsuit, no sul da Groenlândia, que era apoiado pelo Siumut como governo.

o IA conquistou 12 das 31 cadeiras do Inatsisartut, o Parlamento local, contra oito na atual legislatura.

O Siumut obteve 10 cadeiras, uma a mais que atualmente.

Sem maioria absoluta, o mais provável é que o IA estabeleça uma aliança com um ou dois pequenos partidos para formar uma coalizão nesta imensa ilha ártica de apenas 56.000 habitantes.

Mute Egede, 34 anos, deputado desde 2015 e líder do partido ecologista há dois anos, pode se tornar o primeiro-ministro mais jovem do mundo, embora este não seja um posto de chefe de Governo com todas as prerrogativas habituais do cargo.

“Eu posso ser jovem, mas também é a minha força”, disse Egede nesta quarta-feira.

Depois de uma vitória em 2009, esta é a segunda vez que o IA tira do Siumut o título de principal partido da Groenlândia.

O Siumut, em declínio nos últimos anos e enfraquecido pelas disputas internas, conseguiu, no entanto, um resultado melhor do que apontavam as pesquisas.

Depois de agradecer os eleitores, Egede anunciou que iniciará imediatamente as negociações para formar uma coalizão de governo.

Em oposição aberta à exploração da reserva de urânio e terras raras de Kuannarsuit, o IA pretende interromper o projeto, que provocou uma grave crise política em fevereiro e motivou a antecipação das eleições.

– Não sacrificar o meio ambiente

“A mensagem dos eleitores é muito clara: não sacrificarão o meio ambiente em nome da economia”, afirmou Mikaa Mered, analista do SciencesPo Paris.

O IA também se comprometeu a assinar o acordo do clima de Paris, do qual a Groenlândia é um dos poucos territórios que não ratificou.

O projeto de Kuannarsuit, estimulado pelo grupo australiano com capital chinês Greenland Minerals, é muito arriscado para o meio ambiente, afirmam os opositores.

“A saúde pública é o mais importante. Sabemos que o projeto terá consequências sobre o meio ambiente”, afirmou Egede.

Em Narsaq, vilarejo de 1.000 habitantes no sul da Groenlândia, perto de Kuannarsuit, o IA recebeu 67,7% dos votos.

Uma pesquisa publicada na segunda-feira mostrou que 63% dos groenlandeses são contrários ao projeto de Kuannarsuit, mas no que diz respeito à exploração de minérios em geral a tendência é inversa (52% a favor, 29% contra).

Desde 2009, a gigantesca ilha coberta de gelo administra seus recursos naturais, mas seu orçamento só é viável graças às contribuições da Dinamarca, que controla a diplomacia, a defesa e a moeda.

Copenhague afirma que não é contra a independência, mas uma emancipação total privaria a Groenlândia dos generosos subsídios dinamarqueses, mais de 520 milhões de euros por ano (610 milhões de dólares), ou seja, um terço de seu orçamento.

Nos últimos anos a Groenlândia tentou diversificar os recursos próprios, especialmente com a pesca, que representa 90% de suas exportações, projetos de mineração e turismo.