O esquerdista Andrés Arauz e o direitista Guillermo Lasso batalham lado a lado uma semana antes da eleição presidencial no Equador, onde a grande massa social do partido indígena, sem envolvimento de ambos os candidatos, é chave para a definição das eleições.

Arauz, o afilhado político do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017), e Lasso, ex-banqueiro conservador e adversário ferrenho do ex-presidente, se enfrentam para substituir Lenín Moreno, que, após quatro anos na presidência, passará o poder ao próximo eleito em 24 de maio com a credibilidade no chão.

Depois de um primeiro turno agitado em 7 de fevereiro – no qual o líder indígena esquerdista Yaku Pérez denunciou fraude por ter sido marginalizado das urnas com apenas 0,35 ponto percentual de diferença frente a Lasso – os dois candidatos finalistas estão envolvidos em uma campanha feroz que apresenta três cenários para o Equador.

Após a derrota do candidato Pérez e de se tornar a segunda força no Legislativo, o Pachakutik, braço político do maior movimento indígena, se distanciou dos dois candidatos nas urnas, o que deixa no ar para onde irão os 20% de eleitores que os apoiaram no primeiro turno.

– Incerteza –

Várias pesquisas colocaram Arauz na frente com quase uma dezena de pontos, que no primeiro turno teve uma diferença de 13 pontos para vencer com 32,72% dos votos.

Mas a última pesquisa da Market prevê um “empate técnico” entre Arauz, de 36 anos, candidato pelo partido de esquerda União pela Esperança (Unes), e Lasso, de 65 anos, fundador do movimento Criando Oportunidades (Creo).

Segundo a pesquisa, 50% votarão em Arauz e 49% em Lasso, com uma diferença de cerca de 70 mil votos.

Com essa projeção, as perspectivas para a votação de 11 de abril são “totalmente incertas”, ressalta Blasco Peñaherrera, diretor da Market, à AFP, acrescentando que “esse capítulo não está encerrado”.

Peñaherrera destacou que embora seja o segundo colocado, o “crescimento” eleitoral de Lasso é “muito maior” do que o de Arauz.

O cientista político Santiago Basabe, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), de Quito, concorda.

O número de indecisos, que ao final do primeiro turno girava em torno de 35%, caiu para 8%.

– O retorno –

Uma pesquisa da Cedatos, encerrada em 30 de março, mostrou Lasso com 52% e Arauz com 48%.

A vitória no primeiro turno, apoiada na imagem do ainda popular ex-presidente Correa, deu a Arauz alguma vantagem sobre Lasso.

“Embora qualquer um dos dois possa vencer, parece-me que as chances de Arauz são maiores”, ressaltou Basabe.

E se acabar ganhando, “o primeiro ponto da agenda do governo será, sem dúvida, a volta de Correa”.

Depois de deixar o cargo em 2017, o ex-presidente mudou-se para a Bélgica, onde sua esposa nasceu, e começaram a surgir processos contra ele e uma disputa com seu ex-aliado Moreno.

– Os obstáculos –

No Equador, um dos primeiros focos da pandemia na América Latina e com mais de 330.000 casos e quase 17.000 mortes, “vivemos uma situação de desgoverno nos últimos meses”, opinou.

Com a economia dolarizada, atingida pela pandemia, teve retração de 7,8% em 2020. As autoridades estimam que este ano haja crescimento de 3,5%.

Nesse contexto, “há um sentimento de que já não importa quem vence, mas precisamos de uma mudança imediatamente”, acrescentou Romero.

É possível reverter o resultado das últimas pesquisas?

“Provavelmente”, afirmou Peñaherrera, destacando que “nas urnas, vimos mudanças violentas em quase todos os processos eleitorais”.