Sahra Wagenknecht, ex-copresidente do partido A Esquerda, acusou Verdes de priorizarem “guerra insana contra a Rússia”. Mensagem provocou repúdio do atual comando da legenda e de diversos colegas de bancada no ParlamentoSahra Wagenknecht, copresidente do partido alemão A Esquerda de 2015 a 2019, está cada vez mais isolada em sua legenda em função de suas posições sobre a guerra na Ucrânia.

Deputada federal desde 2009, Wagenknecht publicou um tuíte na segunda-feira (01/08) sobre a reativação de usinas elétricas movidas a carvão na Alemanha – para compensar a queda nas importações de gás da Rússia. Na mensagem, ela afirmou que o Partido Verde, que integra a coalizão que governa o país, não se interessava mais em proteção climática, pois sua prioridade agora seria a “guerra insana contra a Rússia”.

A forma como ele se referiu à guerra de agressão do regime de Vladimir Putin contra a Ucrânia, deixando a entender que a Rússia seria a vítima, levou diversos parlamentares do A Esquerda a criticarem Wagenknecht publicamente.

Nicole Gohlke, porta-voz do partido no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), acusou Wagenknecht de criar uma “polêmica distorcida”. Cornelia Möhring, porta-voz da legenda para políticas de desenvolvimento, escreveu também no Twitter: “Você só é minha colega de bancada formalmente”.

Outros críticos apontaram que a retórica de Wagenknecht a aproximaria de extremistas de extrema direita e do movimento Querdenken (“pensamento lateral”) na Alemanha, que foi um dos responsáveis pelos protestos contra as medidas de combate à pandemia.

Dietmar Bartsch, líder da bancada do A Esquerda no Bundestag, afirmou: “A posição do A Esquerda é e segue clara: nós condenamos a guerra de agressão criminosa da Rússia da forma mais enfática possível”. Janine Wissler, atual copresidente da legenda, escreveu no Twitter que a a Rússia estava promovendo uma guerra de agressão contra a Ucrânia com milhares de mortos e milhões de refugiados, e que apresentar isso de outra forma seria uma distorção dos fatos e uma posição contrária à do partido.

A reação a Wagenknecht foi compartilhada por diversos outros políticos do A Esquerda, como a deputada federal Anke Domscheit-Berg, que afirmou estar “cansada de ser corresponsabilizada por suas declarações equivocadas (…) Tenho que me distanciar disso!”.

Nesta terça-feira, um dia após o seu tuíte que despertou reações, Wagenknecht publicou uma nova mensagem, na qual disse que “era claro que o conflito foi desencadeado por uma guerra de agressão da Rússia que deve ser condenada”.

Essa não é a primeira vez que Wagenknecht provoca controvérsia com declarações públicas. Ela já foi criticada no passado por elogiar o regime chavista da Venezuela, manifestar dúvidas sobre as vacinas contra a covid-19 – e não se vacinar –, além de ter expressado visões negativas sobre imigração e refugiados que levantaram comparações com posições do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) e críticas de colegas de partido.

Grupo hoje minoritário

Em 2018, quando era uma das principais líderes da legenda, Wagenknecht lançou um movimento político suprapartidário com o objetivo de fazer um contraponto a tendências de extrema direita na sociedade alemã, mas a iniciativa não prosperou. Hoje, ela enfrenta um momento de baixa na legenda.

Em uma convenção partidária em Junho, em Erfurt, seu grupo político sofreu diversas derrotas. Mas um procedimento interno para expulsá-la do A Esquerda foi considerado improcedente pelo seu diretório estadual, no estado da Renânia do Norte-Westfália.

O grupo de Wagenknecht, minoritário no A Esquerda, afirma que a Otan e os Estados Unidos são corresponsáveis pela guerra na Ucrânia, ecoando a narrativa de Moscou de que o ataque contra o país vizinho teria sido uma medida de proteção preventiva para preservar a segurança do território russo.

Tradicionalmente, o A Esquerda mantinha boas relações com Moscou. O partido tem raízes na República Democrática Alemã (RDA), a ditadura comunista do Leste, extinta com a reunificação do país. Em seguida, o todo-poderoso Partido Socialista Unitário (SED), que governara a Alemanha Oriental por décadas, reformou-se e rebatizou-se inicialmente como Partido do Socialismo Democrático (PDS). Em 2007, o PDS fundiu-se com uma dissidência mais à esquerda do Partido Social-Democrata (SPD), liderada pelo político Oskar Lafontaine – atual marido de Sahra Wagenknecht –, passando a se chamar A Esquerda.

bl (ots)