De tempos em tempos, o megainvestidor George Soros abandona sua rotina de ganhar rios de dinheiro no mercado de capitais, veste a roupagem de filósofo e dedica-se a escrever a respeito daquilo que o transformou em um dos homens mais ricos do planeta: a economia globalizada. Foi assim em 1998, quando publicou A Crise do Capitalismo. Agora, Soros, auto-intitulado filósofo e filantropo, volta às livrarias com A Crise do Capitalismo Global (Editora Campus, 344 págs.).

Trata-se de uma espécie de edição revista e ampliada da obra anterior. Mais uma vez, Soros investe contra o atual sistema capitalista, que ?dá demasiado crédito à motivação do lucro e fracassa na proteção dos interesses comuns por meio de um processo decisório cooperativo? ? uma crítica que soa irônica, pois parte justamente de quem construiu sua fortuna especulando contra moedas de países diversos como Inglaterra e Malásia.

Soros parte de uma premissa correta. Segundo ele, as condições que geraram crises como a asiática e a russa ainda estão de pé. Na base está a dependência extrema dos países em relação aos capitais voláteis. O motivo: a ?nação-Estado? foi ?prejudicada pelas dificuldades de se tributar o capital e pelas pressões da concorrência nos mercados internacionais?, escreve. Ou seja, ?o Estado não foi extinto como fonte última de poder; apenas deixou de ser a principal fonte de prosperidade?. Sua análise da atual conjuntura econômica tem o apuro de quem vive diariamente com essa realidade e interage com ela. É na hora de propor saídas para essa situação que Soros se enrola. A recomendação é a criação de uma tal de Aliança para a Sociedade Aberta, que reuniria os Estados Unidos e os países da Europa. Segundo ele, o embrião para essa parceria seria a Otan (isso mesmo, a organização militar dos tempos da guerra fria). Seria necessário, porém, complementá-la ?por uma aliança política cujo fim explícito seja promover os valores e princípios da sociedade aberta?.

Certas vezes, Soros derrapa para as mais visíveis obviedades. Diz, por exemplo, que os problemas decorrentes da sociedade globalizada devem ser ?corrigidos dentro de um espírito de plena consciência da falibilidade humana, reconhecendo-se que a perfeição é inatingível.? Em certo momento, Soros queixa-se de que, embora seja visto como um guru financeiro, suas credenciais ?no tocante a questões políticas e de segurança são menos reconhecidas?. Depois de ler seu livro, isso não chega a surpreender.