O fato de a diferença entre os valores das exportações registrados na balança comercial e o fluxo cambial da via comercial continuar em níveis recordes, mesmo após o Banco Central (BC) mais do que triplicar a taxa básica de juros (a Selic, hoje em 6,25% ao ano, ante 2,0% no início do ano), tem intrigado economistas. Questões específicas da estratégia empresarial de grandes companhias podem fazer a diferença também.

“Provavelmente, algumas empresas continuam um ciclo, que vimos desde 2019, de antecipar pagamento de dívida externa. Empresas exportadoras acabam deixando os recursos lá fora e já fazem um encontro de contas lá fora (pagando dívidas em dólar)”, disse a economista-chefe para o Brasil do JPMorgan, Cassiana Fernandez.

A Petrobras é frequentemente citada como exemplo. Em 2020, as exportações líquidas de petróleo e derivados saltaram 95% ante 2019. No segundo trimestre deste ano, a receita com exportações foi de R$ 33,6 bilhões, 47,2% superior à do primeiro trimestre.

Para superar a crise financeira deflagrada pela Operação Lava Jato e pelas perdas com o controle dos preços de combustíveis, as gestões que comandam a petroleira desde 2016 vêm focando na redução da dívida, com pagamentos antecipados. A meta é chegar a US$ 60 bilhões de dívida bruta. No segundo trimestre, o valor ficou em US$ 63,7 bilhões, US$ 27,5 bilhões abaixo do patamar do segundo trimestre de 2020. Procurada, a Petrobras não respondeu ao pedido para comentar o assunto.

Outra questão que pode estar levando grandes exportadores a deixar parte dos dólares lá fora é a incerteza em torno da reforma tributária. “Há insegurança, porque a mudança no Imposto de Renda pode tributar lucro lá fora”, ressaltou o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.