Detectada em seres-humanos desde 1981, a Síndrome de Autorreferência Adquirida (AIDS, na sigla em inglês) ainda não possui uma vacina e nem cura, mesmo com diversos esforços tanto das comunidades científicas quanto médicas. Mas a pergunta que não cala é: por que ainda não existe uma vacina depois de mais de quarenta anos desse primeiro caso? 

Ouvimos três especialistas que explicam o que acarreta essa dificuldade. 

Vírus tem características próprias

Apesar da doença ser causada por um vírus, o do HIV, não é possível traçar um paralelo entre ele e o coronavírus, responsável pela pandemia de covid-19 e que teve uma vacina desenvolvida em pouco mais de um ano. 

Jefferson Russo Victor, biomédico imunologista apontou que na própria década de 1980 a comunidade científica acreditava que poucos anos seriam necessários para o desenvolvimento de uma vacina, mas que a capacidade de mutação do vírus  e de se multiplicar no corpo humano coloca um empecilho inédito no desenvolvimento de um imunizante. 

“Com o passar dos anos, foi possível observar que o HIV, diferente de outros vírus, não induz uma eficiente e protetora resposta imune nas pessoas infectadas. Isso compromete um princípio básico do desenvolvimento de vacinas que é o de induzir uma reação ‘semelhante à infecção natural’ para que as pessoas fiquem protegidas. Diferente disso, e de forma totalmente inédita, percebeu-se que uma vacina contra HIV deve ter como objetivo induzir uma resposta imune protetora mais eficiente que a própria doença, algo que até hoje não foi alcançado com nenhuma vacina contra nenhum vírus”, apontou o professor do curso de Medicina da Universidade santo Amaro, a Unisa.

Vírus do HIV ataca o sistema de defesa

Outra dificuldade é como 0 vírus atacam o corpo humano. A Dra. Mirian Dal Ben Corradi, infectologista do Hospital Sírio-Libanês, explica que o HIV ataca as células de defesa e age de uma forma muito mais lenta, enfraquecendo o sistema imunológico. O novo coronavírus, por exemplo, é diferente. Ele entra pelo pulmão e ataca diversos órgãos. 

“O vírus do HIV infecta e mata as células de defesa enfraquecendo o sistema imunológico de uma forma bem mais lenta. É uma doença que não mata por ela, mas pela imunodeficiência que causa. Já o novo coronavírus entra no corpo pelo pulmão e provoca uma resposta inflamatória intensa em algumas pessoas que causa lesão pulmonar, renal, cardíaca, neurológica de forma muito mais aguda”, explicou. 

Como funcionam as vacinas que já estão em estudo?

Apesar da dificuldade, várias vacinas estão em teste há décadas para que finalmente elas funcionem contra o vírus do HIV. 

Milton Monteiro, enfermeiro infectologista do HSANP explica que uma das maiores dificuldades é criar anticorpos capazes de neutralizar as diferentes cepas do vírus e das proteínas que podem se prender em diferentes pontos da membrana viral. 

“A ideia por trás da vacina é estimular o corpo a criar anticorpos, amplamente neutralizantes, contra diferentes cepas do agente infeccioso. Essas proteínas podem se prender a diferentes pontos da membrana viral. Em outras palavras, ela não pode ter um foco específico, como acontece com a maioria das vacinas contra a covid-19, que buscam a proteína S do coronavírus. Durante a pesquisa inicial por esse imunizante, os pesquisadores buscam uma nova abordagem para estimular a produção de células imunes raras no organismo dos voluntários, fundamentais para o processo que gerará anticorpos contra o vírus de mutação acelerada”, apontou.