O principal conselheiro médico do governo de Donald Trump advertiu nesta terça-feira (12) contra um desconfinamento precoce, em um momento em que vários países, inclusive Rússia e Índia, se somam nos primeiros passos do retorno à normalidade.

Anthony Fauci, um renomado epidemiologista que assessora a Casa Branca, advertiu em uma audiência no Senado para as “sérias consequências” de uma reativação apressada da economia em algumas partes do país.

“Isto paradoxalmente nos faria retroceder, somando mais sofrimento e mortes que são evitáveis”, afirmou o médico em um momento em que seu país registra o maior número de óbitos pelo novo coronavírus: mais de 80.000 mortes.

A posição do especialista está em clara contradição com o desejo de Trump de retomar as atividades o quanto antes, depois que o confinamento gerou uma contração do PIB e uma alta do desemprego de até 14,7%, complicando suas chances de ser reeleito em novembro.

E está em sintonia com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que pediu na segunda-feira para intensificar a vigilância ao extremo para evitar uma nova onda de contágios de um vírus para o qual ainda não há vacina.

Um dia depois de a França e a Espanha flexibilizarem as medidas de isolamento após dois meses, nesta terça-feira a Rússia se somou à suspensão das restrições, apesar de ter mais de 232.000 casos confirmados e estar atrás dos Estados Unidos na lista de países com mais infectados.

Salões de cabeleireiro e parques reabriram nesta terça em função das capacidades sanitárias de cada região, mas Moscou, o epicentro da epidemia no país com mais de 121.000 casos, prorrogou o confinamento até 31 de maio.

A Espanha, um dos países mais impactados pela pandemia, com mais de 26.000 mortos, decretou quarentena a todos os viajantes procedentes do exterior, restringindo também as chegadas de países do espaço europeu de livre circulação Schengen.

A pandemia deixou até agora cerca de 290.000 mortes e contagiou quatro milhões de pessoas em 195 países e territórios, segundo o mais recente balanço da AFP, feito com base em cifras de fontes oficiais.

Depois dos Estados Unidos, com mais de 80.000 mortos e 1,3 milhão de contágios, os países mais afetados pela pandemia são Reino Unido (mais de 36.000 mortos), Itália (quase 31.000 mortos), Espanha e França (ambos com mais de 26.900 falecidos).

– Renda básica de emergência para a América Latina –

Diante de uma recessão global sem precedentes, vários países buscam um equilíbrio entre medidas de saúde e a reativação de suas economias.

Neste contexto de crise, a União Europeia busca uma trégua comercial com os Estados Unidos enquanto a emergência durar.

O Peru tentará reativar o turismo, reabilitando o acesso gratuito a reservas naturais e sítios arqueológicos, incluindo a cidadela inca de Machu Picchu, para funcionários públicos, crianças e seus cidadãos idosos a partir de julho.

Para mitigar a crise, a América Latina, um subcontinente onde o trabalho informal aprofunda a crise, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) propôs o pagamento de uma renda básica de emergência de US$ 143 por seus meses a 215 milhões de latino-americanos pobres.

“Se ficássemos em casa, o que íamos comer?”, perguntou à AFP a hondurenha Cintia Suaya Zelaya, de 24 anos.

Tanto ela quanto o marido, Obdulio García, saem todos os dias às ruas de Tegucigalpa pedir dinheiro, depois que ele perdeu o emprego como cobrador de ônibus quando os transportes pararam de funcionar por causa do toque de recolher determinado para conter a propagação do coronavírus.

O Brasil soma mais da metade das 20.000 mortes por COVID-19 na região, uma situação que a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS) vê com preocupação. O México reportou 3.573 mortes, seguido do Equador, com 2.327.

A desaprovação do presidente Jair Bolsonaro, aumentou de 47% em janeiro para 55,4% atualmente, em um momento de tensão política e enfrentamento com os governadores dos estados mais afetados, já que o chefe do Executivo é contrário às medidas de distanciamento social para conter a disseminação do coronavírus.

– Plano bilionário para a Índia –

Na Índia, trinta trens de passageiros (uma pequena parte do tráfego em tempos de normalidade) começaram a circular novamente entre Nova Délhi e algumas grandes cidades, com a obrigatoriedade do uso de máscaras, tomada de temperatura e proibição de viajar com sintomas.

O primeiro-ministro, Narendra Modi, anunciou um plano de estímulo de 250 bilhões de dólares para fazer frente à desaceleração.

Enquanto isso, a pandemia continua desafiando os paradigmas: o Twitter anunciou que permitirá que alguns de seus funcionários trabalhem em casa de forma permanente, inclusive depois de suspenso o confinamento.

– Balanço maior que o esperado –

Na China, a cidade de Wuhan, onde o vírus apareceu em dezembro, voltará a submeter a testes seus onze milhões de habitantes, depois da ativação de um novo surto de COVID-19, noticiaram nesta terça-feira vários meios de comunicação.

No estado de Nova York, o desconfinamento começará na sexta-feira, exceto na cidade homônima.

No entanto, a doença continua causando estragos e as consequências da pandemia continuam emergindo.

Nesta terça-feira, Fauci advertiu que o balanço de mortos nos Estados Unidos pode ser superior às cifras oficiais, citando como exemplo Nova York, onde pode haver casos de pessoas que morreram de coronavírus em casa, devido à saturação dos serviços de saúde.

Não é algo específico da cidade. A falta de exames resulta em balanços incompletos em quase todas as partes.

Segundo um estudo, o coronavírus já circulava no Brasil no começo de fevereiro, antes do carnaval e da detecção oficial do primeiro caso.

Enquanto isso, o Museu de Londres se lançou em uma reflexão sobre como será lembrado este período da História, e se lançou a coletar objetos que possam explicar a vida cotidiana durante a pandemia, de pantufas para andar pela casa a agulhas de tricô.