O transporte aéreo deixou de ser um artigo de luxo há muito tempo, pelo menos na aviação comercial. A executiva, no entanto, continua restrita aos milionários e bilionários, muitos dos quais não se importam em pagar preços estratosféricos para realizar o sonho do jatinho próprio. Os fãs da fabricante Gulfstream, como Roberto Irineu Marinho, um dos donos do Grupo Globo, e o cantor Roberto Carlos, ambos proprietários de aviões da empresa norte-americana, são alguns dos potenciais clientes para os jatos mega luxuosos que empresa está oferecendo no Brasil.

O G650ER, de US$ 71,5 milhões, foi aprsentado na semana passada durante a Labace, maior evento da aviação de negócios da América Latina. O avião não apenas é o mais caro como também o mais rápido e com maior autonomia disponível no mercado. Recentemente, quebrou o recorde de voo mais longo feito por uma aeronave executiva, que antes pertencia à canadense Bombardier Global com o modelo 7500. O jato da Gulfstream voou de Cingapura para os Estados Unidos em 15 horas, superando a concorrente, que havia levado 60 minutos a mais para cumprir a mesma rota.

O G650ER tem autonomia de 13.800 quilômetros, mil a mais que o seu antecessor, o G650, e velocidade máxima de 982 km/h. A aeronave de 30 metros de comprimento comporta até 19 pessoas em um interior luxuoso, com 10 leitos, internet de alta velocidade e um moderno sistema de gerenciamento de cabine, que permite ao passageiro controlar, por meio do celular, a temperatura e a iluminação.

Roger Sperry: vice-presidente sênior de vendas internacionais da Gulfstream: otimista cpm o crescimento das vendas no Brasil (Crédito:Kathy Almand)

Apesar da imponência do G650ER, a Gulfstream aposta mesmo é no novo G600, de US$ 57,9 milhões. Pela primeira vez em solo nacional, o jato compartilha de algumas configurações do irmão mais caro: a velocidade máxima (982 km/h), a capacidade de passageiros (19), e o sistema de controle de cabine. O alcance, no entanto, é um pouco menor, de 12 mil quilômetros, o que garante uma viagem sem escalas de São Paulo a Moscou. A cabine, com nove leitos e possibilidade de configuração em três áreas de convivência com espaço reservado para a tripulação, foi premiada no Private Jet Design 2018, um dos maiores reconhecimentos do setor de aviação executiva no mundo.

Na última semana, a Gulfstream fez a primeira entrega do G600 para um cliente não revelado. O modelo é uma melhora do G550, o jatinho de Roberto Irineu Marinho. “O G600 está despertando o interesse de clientes de todo o mundo, inclusive no Brasil”, diz Roger Sperry, vice-presidente sênior de vendas internacionais da Gulfstream. Com faturamento de US$ 8,4 bilhões, a América Latina representa 25% da frota mundial com 230 jatos, sendo 40 deles no Brasil. “Desde 2014, a frota da Gulfstream cresceu 8% no Brasil.”

Apesar da recessão econômica que levou a queda nas operações na aviação executiva entre 2012 e 2015, o Brasil continua com alta demanda no segmento. O País é hoje o segundo maior mercado mundial, com 15,4 mil aeronaves privadas. Desse total, cerca de 11 mil, ou 76% da frota, é utilizada para fins de negócios, segundo dados da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag). “O Brasil, com sua grande frota e rica história da aviação, é um importante mercado para a Gulfstream. Estamos muito otimistas em relação à nossa presença e ao contínuo crescimento dos produtos Gulfstream no País”, diz Sperry.

Poderosos: à direita, o Falcon 8X, trijato de ultra-longo alcance e queridinho dos empresários. À esquerda, a cabine do novo G600, premiada no Private Jet
Design 2018 (Crédito:Divulgação)

MERCADO DE US$ 11 BILHÕES Assim como a sua concorrente americana, a Embraer também pensa positivo. Segundo estimativas da companhia, nos próximos dez anos devem ser entregue até 650 novos jatos executivos na América Latina, totalizando um mercado de US$ 11 bilhões. “O mercado está retomando a partir de uma demanda que ficou reprimida nos últimos anos por conta da recessão”, diz Gustavo Teixeira, diretor de vendas da Embraer para a América Latina. “Os clientes que precisavam trocar suas aeronaves vão começar a fazer isso agora.”

Por isso, a Embraer também apresentou dois lançamentos na Labace: o Praetor 500, de US$ 17 milhões, e o Praetor 600, de US$ 21 milhões. “O Praetor 600 foi homologado no primeiro semestre desse ano e já fizemos algumas entregas, inclusive no Brasil”, diz Teixeira. É um jato de porte “super médio”, para até 12 passageiros, com alcance intercontinental de 7,4 mil quilômetros. Pode fazer voos sem escala entre São Paulo e Miami, Rio de Janeiro e Fort Lauderdale (EUA), ou Madri a Recife. Para reforçar sua brasilidade, recebeu assentos de couro com um design que remete às ondas internacionalmente reconhecíveis que estampam as calçadas de Copacabana.

Já o Praetor 500, que foi certificado na terça-feira 13, ainda durante a Labace, é um jato médio para até nove passageiros com alcance intercontinental de 6 mil quilômetros, o que significa que ele pode partir de São Paulo e chegar à Europa ou aos Estados Unidos com uma única parada. O diferencial desses aviões é a internet de alta velocidade de 16 mbps, recurso inédito em jatos de porte médio e super médio. Os aviões também são equipados com a tecnologia Fly-by-Wire, controle de voo que reduz a turbulência. “Nossa proposta é tecnologia e inovação”, diz Teixeira. “Estamos entregando aeronaves completas, com recursos que só podem ser encontrados em jatos de mais de US$ 50 milhões.”

Modelos brasileiros: O Praetor 600, novo jato “super médio” para até 12 passageiros da Embraer. Abaixo, a cabine do Praetor 500 (Crédito:Divulgação)

O Brasil é um importante mercado para a Embraer, que tem uma frota mundial de 1,4 mil jatos. Nos últimos 10 anos, de cada dois jatos executivos entregues no País, um foi fabricado pela Embraer. São 186 aeronaves cruzando os céus brasileiros, com alta taxa de utilização: a cada 20 minutos, em média, um avião executivo produzido pela companhia decola. Entre seus clientes estão o governador de São Paulo, João Doria (Embraer Legacy 650), o dono da Eurofarma, Murizio Billi (Legacy 500), a cantora Claudia Leite (Phenom 100), o apresentador e empresário Luciano Huck (Phenom 300) e até astros internacionais como Jackie Chan (Legacy 650).

TRIJATO A fabricante francesa Dassault trouxe para a Labace os modelos Falcon 8X, de US$ 60 milhões, e Falcon 2000S, de US$ 25 milhões. “As famílias do 8X e do 2000 são as aeronaves mais aceitas aqui no Brasil”, diz o vice-presidente de vendas da Dassault Falcon Jet para a América Latina, Rodrigo Pesoa. Das 52 aeronaves da Dassault em solo brasileiro, 42 delas são desses modelos. O Falcon 8x é um trijato de ultra-longo alcance com autonomia de voo de 11,9 mil quilômetros. São proprietários do seu antecessor, o Falcon 7X, o presidente do Conselho de Administração da Cosan, Rubens Ometto; o bilionário do varejo Abilio Diniz; o empresário Carlos Jereissati, do grupo de shoppings center Iguatemi; e Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil e 29º do mundo. “O 2000S é mais voltado para os que voam pela América Latina ou até Miami”, diz Pesoa.

A novidade da Dassault deve ficar para o próximo ano. O Falcon 6X, lançado há um ano e meio, deve começar a voar em 2021 com entregas programadas para 2022. O jato acomoda até 12 pessoas e deve chegar ao mercado por US$ 47 milhões. Ele tem autonomia de voo de 10 mil quilômetros, podendo voar de São Paulo a Londres sem escalas.