Há marcas que rumam ao topo. Há outras que já nascem lá. A Montblanc faz parte deste grupo. E isso já tem 115 anos. A grife alemã fundada em 1906 nunca abriu mão de um duo poderoso: tradição e design. Para refinar ainda mais essa visão, a empresa tem um novo diretor criativo, Marco Tomasetta. Italiano formado pelo Istituto Europeo di Design, em Milão, ele carrega uma incrível discrição para quem já passou por Chloé, Givenchy, Louis Vuitton e Prada. Vai supervisionar times na Alemanha, que cuidam das canetas; na Suíça, que elaboram, claro, os relógios; e na Itália, que produzem os artigos de couro. Esse segmento, que é a base de criação de Tomasetta, foi um dos motivos para ter sido chamado para o posto – e forte indicativo para onde aponta o futuro da grife. “Sua chegada é um passo na direção de estabelecer a ponte entre ícones tradicionais da marca com as necessidades das novas gerações”, afirmou à DINHEIRO Michel Cheval, diretor geral da Montblanc no Brasil.

Os primeiros sinais da mão do novo diretor no redirecionamento da Montblanc nas peças de suas três centenas de lojas pelo mundo, incluindo América Latina e Brasil, poderão ser vistos no fim do ano. Um desafio e tanto. Até porque ele terá a missão de substituir um ícone do design, o ex-diretor Zaim Kamal. Nascido no Paquistão e radicado por décadas em Londres, Kamal foi responsável por uma das mais exclusivas linhas da indústria do luxo, a High Artistry, lançada em 2014. Com essa coleção temática de canetas exclusivas e edições limitadas, ele se despediu de forma brilhante. Literalmente. São peças em ouro cravejadas de pedras preciosas. A edição 2021, intitulada Grande Muralha da China, tem cinco modelos. A Limited Edition 333 (o número representa a quantidade de unidades: US$ 27,4 mil cada), Limited Edition 88 (US$ 50,5 mil), Limited Edition 10 (US$ 203 mil), Limited Edition 5 Imperial (US$ 558 mil) e a humilhante Great Wall Limited Edition 1 Imperial, a da foto que ilustra esta reportagem. Essa peça única custa US$ 1.978.500. Sim, coisa de R$ 11,3 milhões.

Além das canetas, a Montblanc tem bem pavimentada sua posição na indústria da relojoaria. No dia 7, a empresa apresentou em Genebra, na maior feira de relógios do mundo, a Watches and Wonders, em sua versão digital experience por causa da pandemia, uma belíssima edição limitada de 1.858 peças do clássico Geosphere, com sobrenome Desert, em homenagem ao lendário montanhista italiano Reinhold Messner, o primeiro a subir ao Monte Everest, com e sem oxigênio suplementar, entre outros feitos. A obra de arte aliada à precisão tem caixa de bronze com gravação especial de Penhascos do Deserto de Gobi, um dos alvos de Messner, bisel bidirecional feito de cerâmica marrom brilhante, mostrador laqueado bege e marrom fumê, pulseira sfumato marrom vintage e acabamento, decoração e oxidação (que dá cor ao relógio) feitos a laser.

OUÇA ESSA Mas canetas & relógios são o terreno da Montblanc. O futuro, e dele Tomasetta será responsável, estará em outras paragens. No crescente portfólio de malas, mochilas, carteiras, cintos, braceletes e, especialmente, gadgtes incríveis. Parte dessas águas virgens começaram a ser exploradas em março de 2020, com o primeiro e elogiado fone de ouvido MB-01. Ele traz bluetooth 5.0, cancelamento de ruídos equiparados aos (e até acima) das melhores marcas e áudio cristalino via drivers dinâmicos de neodímio de 40 mm – e vamos evitar mais tecnicalidades, pra não assustar. Já o preço pode arrepiar: R$ 4,1 mil. O mesmo embasbacamento aconteceu quando a Montblanc evoluiu seu smartwatch (de 2017) para o Summit 2+ (em 2020), Você olhando parece um relógio analógico, mas é apenas sua tela Amoled projetando os ponteiros, com sistema operacional Wear OS by Google, bluetooth 4.2, 8 gigas de armazenamento, microfone embutido e pareamento com celular. Ou seja, nada a dever a um Apple Watch. Bem, talvez no preço: R$ 6,7 mil, o dobro em relação ao da maçã.

A marca quer deixar claro que pensa por si só. Isso pode ser resumido na campanha What Moves You Makes You, lançada em setembro, que reúne criadores que não só pensaram fora da caixa como a abandonaram completamente: o cineasta Spike Lee (cuja história no cinema é uma grande provocação), o chinês Chen Kun (respeitado ator e fundador de uma escola de atuação) e o ator americano Taron Egerton (que escolhe papéis ousados, como seu principal personagem nas telas, Elton John, em Rocketman). A grande aventura da Montblanc, pelo visto, não vai mais estar só na graça de ter uma edição limitada de sua caneta em formato cilíndrico que tiraria de seu bolso alguns milhões. Vai estar em algo com mais pensatta. De mãos dadas com o futuro e o luxo. O recado é claro. Ter 115 anos é um feito. Se reinventar é ainda mais.

O DESIGNER

Divulgação

Desde o começo de março, o italiano Marco Tomasetta é o novo diretor de Criação da Montblanc. Formado pelo Istituto Europeo di Design de Milão, ele possui extensa experiência em artigos de couro e acessórios – foi da Chloé, da Louis Vuitton, da Prada e, recentemente, estava na Givenchy –, o que mostra que o futuro da grife alemã estará menos focado em relógios e canetas.

“A Montblanc é célebre por trazer sua rica herança junto ao foco intransigente na sua essência, que une design e funcionalidade”, afirmou Tomasetta. Para o CEO da marca, Nicolas Baretzski, “Marco é inovador e, ao mesmo tempo, está comprometido com um design atemporal, que sempre foi central para a Montblanc”.

“Há algo de incrivelmente significativo no objetivo da grife Montblanc de criar pares perfeitos, que crescerão com seus donos e se tornarão parte de suas realizações”

“Escrever e desenhar são os pontos de partida de qualquer processo de design. E é por isso que fui atraído pela marca, que une tradição com um pioneirismo no design”

RICHEMONT

Por trás da centenária Montblanc está a Compagnie Financiere Richemont. Dona de marcas como Cartier, Chloé e Panerai, além de operações de e-commerce de peças exclusivas – incluindo uma parceria com a chinesa Alibaba –, trata-se do terceiro maior conglomerado do segmento de luxo do mundo, com faturamento total de US$ 16,2 bilhões em 2019. Fica atrás apenas do Kering (US$ 17,8 bilhões) e do líder LVMH (US$ 60 bilhões), de acordo com o dossiê Global Power of Luxury Goods 2020, da Deloitte. Sediado na Suíça, o Richemont foi fundado em 1988 pelo bilionário sul-africano Johann Rupert, de 70 anos, dono de uma das 400 maiores fortunas do planeta. Johann, chairman do grupo, é filho de um empresário lendário, Anton Rupert (1906-2006). De origem humilde, Anton atuou em diversos segmentos, do tabaco às finanças. Sempre foi um crítico do regime segregacionista do apartheid e usou parte de seu dinheiro para financiar projetos ambientais, de educação e de saúde. Nos últimos 12 meses, as ações do Richemont valorizaram 69,36% na bolsa suíça. Os resultados do ano fiscal de 2021, encerrado em 31 de março, serão divulgados no mês que vem. No período abril-dezembro de 2020, por causa da pandemia, a receita recuou 14% em relação a 2019. Mas o último trimestre do ano mostrou recuperação, marcada fortemente pelo mercado chinês, que cresceu 80%.

Correção: o nome do Istituto Europeo di Design foi grafado incorretamente. A informação foi corrigida às 20:00 de 21/4/2021.