Parece conversa de louco. Enquanto empresas de todo porte alardeiam a quatro ventos investimentos bilionários em ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança) o mundo hoje registra 40 milhões de pessoas em situação de escravidão. Mais de 70% delas são meninas e mulheres. É com esses dados devastadores que o mundo celebrou, em 23 de agosto, o Dia Internacional em Memória do Tráfico de Escravos e sua Abolição.

No Brasil, a situação também é alarmante. Entre 1995 e 2020, mais de 55 mil pessoas foram libertadas de condições de trabalho análogas à escravidão, segundo o Radar da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT). Diferentemente do cenário global, por aqui a maioria dos trabalhadores libertados são homens, têm entre 18 e 44 anos e 33% são analfabetos. Boa parte deles, resgatados de trabalhos em fazendas e na indústria têxtil. Isso significa que tem empresas atuando no “faça o que eu falo, não faça o que faço”. Afinal, se estão trabalhando, o fazem para alguma empresa ou para fornecedores dela.

Para deixar o que é ruim ainda pior, de acordo com dados de uma pesquisa coordenada por Carlos Haddad, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e cofundador do Instituto Administração Judicial Aplicada, de 2008 a 2019, 2.679 réus foram denunciados pela prática de trabalho análogo ao escravo, mas apenas 6,3% deles foram levados a julgamento e somente 4,2% (ou 112) foram condenados em definitivo. Destes, 1% estaria sujeito a ser preso. Isso se a pena não prescrever.

Evandro Rodrigues

(Nota publicada na edição 1237 da Revista Dinheiro)